fevereiro | 2021 Petra Sofia Nunes Silva MESTRADO EM MATEMÁTICA, ESTATÍSTICA E APLICAÇÕES Triângulo DNG DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Petra Sofia Nunes Silva MESTRADO EM MATEMÁTICA, ESTATÍSTICA E APLICAÇÕES Triângulo DNG DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ORIENTAÇÃO Maria Teresa Alves Homem de Gouveia Agradecimentos Em primeiro lugar quero agradecer a todos os Professores, mas de um modo muito especial à minha orientadora, a Professora Drª Teresa Gouveia, por ter sido incansável com todo o seu apoio e disponibilidade indispensáveis na realização desta dissertação. Aos meus colegas de Mestrado, em especial à Laura Berenguer, pela amizade desde o primeiro ano da Licenciatura. À minha tia e madrinha, Ana Nunes, por ser um exemplo e uma segunda mãe para mim, sempre presente e sempre com o conselho mais acertado. Aos meus avós maternos, América e Eleutério Nunes, pela incrível educação e valores que sempre transmitiram, pelo carinho, por sempre demonstrarem o orgulho que têm em mim e por todo o apoio que me deram nas minhas escolhas académicas. À Ana Luísa, pela paciência que sempre teve comigo, pelo apoio que sempre me deu, por me dizer sempre tudo o que preciso de ouvir, por ser a minha bengala e pela amizade incondicional que me dá todos os dias. Aos meus amigos de sempre, principalmente à Ssica por ter sempre os melhores conselhos e os melhores ensinamentos, por me fazer dar gargalhadas como ninguém e por ser também a minha bengala. À Carlota, ao Adão, ao Nikolaj e restante grupo por todas as semanas, por umas horas, me fazerem esquecer o trabalho e simplesmente rir e me divertir com todos vocês, e por todos os abraços de apoio que me deram no momento certo. Ao meu Júlio, por ser o meu companheiro em tudo, por ser sempre a minha força, por me fazer ver o lado positivo da vida, por me fazer aproveitar cada segundo, por ser o meu porto seguro e por me ensinar a estar grata por tudo. E por fim, o meu maior agradecimento vai para a minha melhor amiga, a mulher que me deu tudo, a minha mãe, Dulce Nunes. A minha mãe sempre me disse que eu podia ser quem quisesse ou fazer o que quisesse desde que nunca procrastinasse e desse sempre o melhor de mim. Encheu a nossa casa com amor, alegria, livros e músicas e nunca poupou nos abraços, nas loucuras e nas gargalhadas. Ensinou-me tudo sobre a liberdade e a independência, enquanto me mostrava que não há melhor lugar no mundo que o abraço de uma mãe. Devo-lhe tudo o que tenho, e espero um dia ser como ela. Obrigada, Mãe, és o meu modelo em tudo. i ii Resumo Com o estudo da teoria dos grafos e da teoria dos designs surgiu o principal ob- jetivo desta dissertação, nomeadamente, a construção do triângulo DNG, ou seja, a construção de ligações entre a teoria dos designs combinatórios, a teoria dos números e a teoria dos grafos. Nesta dissertação, em primeiro lugar, fez-se uma introdução teórica com alguns exemplos, de cada uma das teorias pertencentes ao triângulo DNG e, de seguida, demonstrou-se como estas poderiam estar ligadas, aplicando-as em diversos proble- mas. Dentro do grupo dos designs, foi dada a devida relevância aos BIBDs (Balanced Incomplete Block Designs), em que conseguimos calcular a matriz de Hadamard para alguns BIBDs não simétricos. Em relação à teoria dos números, mantivemos o nosso foco nos números euleri- anos, por percebermos que existia uma relação entre estes e os BIBDs. Na teoria dos grafos, para além dos grafos completos, importantíssimos na relação da teoria dos grafos com a teoria dos designs, demos importância ao polinómio de Tutte e a sua relação com os grafos bipartidos. As aplicações do triângulo DNG em situações recorrentes da nossa vida servem para provar que a matemática está interligada e sempre presente, mesmo que por vezes a sua importância não seja visível para todos. Palavras-chave: Grafo, Design, Número Euleriano, Polinómio de Tutte, Matriz de Hadamard. iii iv Abstract With the study of the graph theory and the design theory, the main objective of this dissertation emerged, namely, on the construction of the DNG triangle, that is, the construction of connections between the theory of combinatorial designs, the theory of numbers and the theory of graphs. In this dissertation, in first place, a theoretical introduction was made with some examples, of each of the theories belonging to the DNG triangle, and then, it was demonstrated how they could be linked, applying them in several problems. Within the design group, due importance was given to BIBDs (Balanced Incom- plete Block Designs), in which we were able to calculate the Hadamard matrix for some non-symmetric BIBDs. Regarding number theory, we kept our focus on Eulerian numbers, as we realized that there was a relationship between them and the BIBDs. In graph theory, in addition to the complete graphs, that are very important in the relation between graph theory and design theory, we gave importance to Tutte’s polynomial and its relation to bipartite graphs. The applications of the DNG triangle in recurring situations of our lives proves that mathematics is interconnected and always present, even though its importance is not visible to everyone. Keywords: Graph, Design, Eulerian Number, Tutte Polynomial, Hada- mard Matrix. v vi Índice Lista de Figuras xi Lista de Tabelas xiii Lista de Notações xvii 1 Introdução 1 2 Designs 3 2.1 Alguns conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2.2 Matriz de Incidência e Matriz Complementar . . . . . . . . . . . . . . 6 2.3 Matriz de Hadamard . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.3.1 Matriz de Hadamard para BIBDs não simétricos . . . . . . . . 10 3 Números 19 3.1 Números pares e ímpares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.2 Números primos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.3 Combinações de conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.4 Congruência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 3.5 Relação de recorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 3.6 Números eulerianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 4 Grafos 27 4.1 Alguns conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 4.2 Grafos especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4.2.1 Grafo Euleriano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 4.2.2 Grafo Hamiltoniano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 4.2.3 Grafo Planar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.3 Matriz de Incidência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.4 Matriz de Adjacência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.5 Matching Perfeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4.6 Árvore Geradora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 4.6.1 Teorema da árvore-matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.7 Número Cromático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4.7.1 Polinómio Cromático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.7.2 Coloração de alguns grafos especiais . . . . . . . . . . . . . . . 44 4.8 Digrafos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 vii viii ÍNDICE 4.9 Polinómio de Tutte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 4.9.1 Polinómio de Tutte em grafos bipartidos . . . . . . . . . . . . 48 5 Triângulo DNG 57 5.1 Grafos completos e BIBDs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 5.1.1 Grafo Conexo, Euleriano, Hamiltoniano e Planar . . . . . . . 60 5.1.2 Matrizes de incidência e de adjacência . . . . . . . . . . . . . 62 5.1.3 Bloco Complementar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 5.1.4 Matching Perfeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 5.1.5 Árvore Geradora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 5.1.6 Digrafos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 5.2 Grafos especiais e BIBDs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 5.3 Multigrafos e BIBDs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 5.4 Grafos completos e BIBDs simétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 5.5 Números Eulerianos e BIBDs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 5.6 Polinómio de Tutte e BIBDs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 6 Aplicações 77 6.1 Problema do Carteiro Chinês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 6.2 Ciências da Computação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 6.3 Relações entre as Pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 7 Conclusão 85 A Álgebra linear 89 A.1 Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 A.1.1 Matriz quadrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 A.1.2 Matriz diagonal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 A.1.3 Matriz identidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 A.1.4 Matriz transposta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 A.1.5 Soma de matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 A.1.6 Multiplicação de matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 A.2 Determinantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 A.2.1 Matriz de dimensão 2× 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 A.2.2 Matriz de dimensão 3× 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 Anexos 93 A Matriz de Hadamard do (11,22,10,5,4)-BIBD 95 B Problema do Caixeiro-viajante 99 C Coloração de Mapas 103 D Aplicação nas Ciências 105 D.1 Os Grafos na Biologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 D.2 Os Grafos na Química . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 ÍNDICE ix E Aplicação na resolução de crimes 107 x ÍNDICE Lista de Figuras 2.1 Matriz de incidência do (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . 6 2.2 Grafo criado a partir do (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . 7 2.3 Matriz complementar do (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD . . . . . . . . . . . . . 7 2.4 Matriz de incidência do (7, 7, 3, 3, 1)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . . 9 2.5 Matriz de incidência do (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . 13 2.6 Matriz de incidência do (7, 14, 6, 3, 2)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . 15 2.7 Matriz de incidência do (9, 18, 8, 4, 3)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . 17 4.1 As sete pontes de Ko¨nigsberg . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 4.2 Grafo criado por Euler para as sete pontes de Ko¨nigsberg . . . . . . 27 4.3 Da esquerda para a direita, grafo simples, multigrafo e pseudografo . 28 4.4 Um caminho simples do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 4.5 Um caminho fechado do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 4.6 Um passeio do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 4.7 Um percurso do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 4.8 Um circuito do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 4.9 Um ciclo do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 4.10 Grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4.11 Grafos completos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4.12 Grafos cíclicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4.13 Grafos roda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4.14 Grafos nulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4.15 Grafos caminho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4.16 Grafo bipartido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 4.17 Grafo bipartido com vértices de cores diferentes . . . . . . . . . . . . 33 4.18 Grafo bipartido completo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 4.19 Grafo conexo e grafo desconexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 4.20 Um grafo de Euler e de Hamilton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.21 Representação do grafo K4 na forma planar . . . . . . . . . . . . . . 35 4.22 Grafo G conexo e planar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 4.23 Grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.24 Matriz de incidência do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.25 Grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4.26 Matriz de adjacência do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4.27 Grafo G com matching perfeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 4.28 Grafo completo K6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 4.29 Exemplos de árvores geradoras do grafo completo K6 . . . . . . . . . 40 xi xii LISTA DE FIGURAS 4.30 Grafo G com quatro vértices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.31 Matriz de adjacência do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.32 Matriz S do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.33 Grafo 4−colorável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4.34 Eliminação e contração da aresta 23 do grafo G . . . . . . . . . . . . 42 4.35 Grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.36 Cálculo do polinómio cromático do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . 43 4.37 Polinómio cromático do grafo G . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 4.38 Grafo k−crítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 4.39 Digrafo D com seis vértices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 4.40 Matriz de incidência do digrafo D com seis vértices . . . . . . . . . . 46 4.41 Polinómio de Tutte do grafo completo K3 . . . . . . . . . . . . . . . . 47 4.42 Triângulo de Tutte de grafos bipartidos . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 5.1 Grafo completo K3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 5.2 Grafo completo K4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 5.3 Grafo completo K5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 5.4 Grafo completo K6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 5.5 Grafo K3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 5.6 Grafo K4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 5.7 Matriz de incidência dos grafos Kn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 5.8 Matriz de adjacência dos grafos Kn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 5.9 Matching perfeito do grafo K4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 5.10 Matching perfeito do grafo K5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 5.11 Grafo completo K4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 5.12 Matriz de adjacência do grafo completo K4 . . . . . . . . . . . . . . . 64 5.13 Matriz S do grafo completo K4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 5.14 Digrafo de um (4, 6, 3, 2, 1)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 5.15 Multigrafo do (4, 12, 6, 2, 2)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 5.16 Multigrafo do (4, 18, 9, 2, 3)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 5.17 Grafo do BIBD simétrico (3, 3, 2, 2, 1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 6.1 Digrafo sem ciclo de Hamilton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 6.2 Digrafo Euleriano e Hamiltoniano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 6.3 Digrafo associado ao (6, 15, 5, 2, 1)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . . . 79 6.4 Digrafo adaptado a Euleriano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 6.5 Grafo que relaciona os diferentes sites . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 6.6 Parte da árvore genealógica da família Bernoulli, fonte: Picado [PG08] 82 6.7 Grafo das relações de parentesco da família Bernoulli . . . . . . . . . 82 A.1 Matriz de incidência do design (11,22,10,5,4) . . . . . . . . . . . . . . 96 B.1 Grafo que demonstra os diferentes trajetos que o caixeiro-viajante poderia escolher no concelho do Funchal . . . . . . . . . . . . . . . . 100 B.2 Ciclo de Hamilton com menor custo dos diferentes trajetos que o caixeiro-viajante poderia escolher no concelho do Funchal . . . . . . . 101 C.1 Mapa da Ilha da Madeira representado na forma de grafo . . . . . . . 103 LISTA DE FIGURAS xiii C.2 Coloração do grafo que representa o mapa da Ilha da Madeira . . . . 103 D.1 Exemplo de uma cadeia alimentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 D.2 Exemplo de uma rede alimentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 D.3 Grafo representativo da molécula da água . . . . . . . . . . . . . . . 106 D.4 Grafo representativo da molécula da cafeína . . . . . . . . . . . . . . 106 E.1 Digrafo que representa os testemunhos dos suspeitos . . . . . . . . . . 107 xiv LISTA DE FIGURAS Lista de Tabelas 2.1 Exemplo de uma solução do problema de Kirkman . . . . . . . . . . . 3 2.2 Valores de k e λ quando v é um número primo . . . . . . . . . . . . . 9 4.1 Grau de entrada e de saída de cada um dos vértices . . . . . . . . . . 46 5.1 BIBDs correspondentes aos grafos completos . . . . . . . . . . . . . . 59 5.2 Graus de entrada e de saída de cada um dos vértices . . . . . . . . . 65 5.3 Graus de entrada e de saída de cada um dos vértices de um digrafo completo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 5.4 BIBD resultante de E(n, 1) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 5.5 BIBD resultante de E(n, 2) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 5.6 BIBD resultante de E(n, 3) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 5.7 Ligação entre o polinómio de Tutte de grafos bipartidos completos e os BIBDs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 6.1 Graus de entrada e de saída de cada um dos vértices do digrafo sem ciclo de Hamilton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 6.2 Graus de entrada e de saída de cada um dos vértices do digrafo Eu- leriano e Hamiltoniano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 6.3 Graus de entrada e de saída de cada vértice do digrafo associado ao (6, 15, 5, 2, 1)−BIBD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 6.4 Graus de entrada e de saída do digrafo adaptado a Euleriano . . . . . 80 B.1 Ciclos de Hamilton no concelho do Funchal . . . . . . . . . . . . . . . 100 E.1 Graus de entrada de cada um dos vértices . . . . . . . . . . . . . . . 107 xv xvi LISTA DE TABELAS Lista de Notações BIBD Balanced Incomplete Block Design X conjunto finito com v elementos A coleção de b subconjuntos de X v ou |X| número de elementos de X b ou |A| número de subconjuntos de A r número de vezes que um elemento se repete nos subconjuntos de A k número de elementos de cada subconjunto (ou bloco) de A λ número de vezes que cada par ocorre nos blocos de A N conjunto dos números naturais( n k ) = C(n, k) número de k−combinações de um conjunto com n elementos Mv×b matriz de incidência de um BIBD mij entradas da matriz Mv×b A¯ coleção dos blocos complementares de um BIBD H matriz de Hadamard HT matriz transposta de H Hn matriz de Hadamard de ordem n In matriz identidade de ordem n MIv×2v matriz de incidência para um BIBD não simétrico Z conjunto dos números inteiros E(n, k) = En,k = 〈 n k 〉 números eulerianos P permutação de {1, 2, 3, ..., n} V (G) conjunto de vértices do grafo G xvii xviii LISTA DE NOTAÇÕES E(G) conjunto de arestas do grafo G G = (V,E) grafo G que contém o conjunto de vértices V e o conjunto de arestas E |V | número de vértices de um grafo |E| número de arestas de um grafo deg(vi) grau de um vértice i Kn grafo completo Cn grafo cíclico Wn grafo roda Nn grafo nulo Pn grafo caminho Kn,m grafo bipartido completo fi face de um grafo planar |fi| número de faces de um grafo deg(fi) grau da face i IG matriz de incidência do grafo G AG matriz de adjacência do grafo G M matching T árvore T (G) número de árvores geradoras do grafo G r(Kn) número de árvores de Kn S matriz diagonal que contém o número de graus de cada vér- tice Q matriz resultante da diferença entre as matrizes S e AG PG(K) polinómio cromático χ(G) número cromático do grafo G G− e eliminação da aresta e do grafo G G/e contração da aresta e do grafo G D digrafo ou grafo orientado LISTA DE NOTAÇÕES xix degE(vi) grau de entrada do vértice i num digrafo degS(vi) grau de saída do vértice i num digrafo t cauda de um arco h cabeça de um arco ID matriz de incidência de um digrafo D TG(x, y) = T (G;x, y) polinómio de Tutte do grafo G Tn,k elementos do triângulo de Tutte det A determinante da matriz A xx LISTA DE NOTAÇÕES Capítulo 1 Introdução Esta dissertação, intitulada Triângulo DNG, surgiu no âmbito do Mestrado em Matemática, Estatística e Aplicações da Universidade da Madeira. O principal objetivo desta dissertação é a construção de ligações entre a teoria dos designs combinatórios, a teoria dos números e a teoria dos grafos. Este ciclo, criado através dessas ligações, denomina-se triângulo DNG, em que DNG representa a letra inicial de cada uma das componentes dos vértices do triângulo. A teoria dos grafos despertou-nos interesse devido ao seu crescimento exponencial no século XX e às imensas e diferentes aplicações que esta tem no nosso mundo. Cada vez mais, com o avanço das tecnologias e das redes de transportes, percebe-se a importância da teoria dos grafos ao constatarmos que esta está presente em tudo o que nos rodeia. A teoria dos designs, sendo um tema que na matemática só começou a ser verda- deiramente estudado no século XX, ainda tem muitos problemas em aberto. Ante- riormente, segundo Stinson [Sti07], nos séculos XVIII e XIX, a teoria do design era utilizada na matemática recreativa, nomeadamente, na resolução de quebra-cabeças. Os estudos mais recentes, especialmente sobre os BIBDs (Balanced Incomplete Block Designs), incentivaram o nosso interesse em relacioná-los com os grafos, pois achá- mos interessante estudar como é que um grafo ficaria organizado num conjunto finito, em que os seus elementos estariam em subconjuntos, satisfazendo as propriedades de um BIBD. A teoria dos números, ao contrário das anteriores, segundo Brualdi [Bur11], teve a sua origem na Grécia Antiga, em que a palavra número significava somente número inteiro positivo. Esta dissertação está organizada da forma que se segue. No Capítulo 2, aborda-se a teoria dos designs, narrando um pouco da sua história e apresentando alguns conceitos básicos. Para além destes conceitos, também se explica o que é a matriz de Hadamard e consegue-se provar que existe aplicabilidade desta matriz, não só para os BIBDs simétricos, mas também para alguns BIBDs não simétricos. No Capítulo 3, apresenta-se uma breve introdução à teoria dos números com maior ênfase nos números eulerianos, já que estes são um ponto fulcral do triângulo DNG. No Capítulo 4, são introduzidos todos os conceitos necessários da teoria dos 1 2 Introdução grafos para esta dissertação. Além de conceitos gerais sobre a teoria dos grafos, o tema mais destacado é o do polinómio de Tutte. No Capítulo 5, explica-se o que efetivamente é o triângulo DNG, que relaciona os grafos completos, os números eulerianos e o polinómio de Tutte com os BIBDs. No Capítulo 6, demonstra-se a aplicabilidade do triângulo DNG em situações do nosso quotidiano. No Capítulo 7, finalmente, encontram-se algumas conclusões e perspetivas de futuras investigações. Capítulo 2 Designs A teoria do design combinatório tem origem na teoria da estatística experimen- tal, na matemática recreativa e na geometria. Esta teoria relaciona determinados padrões com a construção de conjuntos finitos e tem o seu foco na organização de elementos de um conjunto finito em subconjuntos, de modo que determinadas propriedades sejam satisfeitas. Os principais problemas são, em geral, os de exis- tência, numeração e classificação, propriedades estruturais e aplicações. São várias as aplicações da teoria do design, nomeadamente na programação e na criptografia. Exemplo 2.0.1. Problema de Kirkman Originalmente, a teoria do design foi criada para fins recreativos para solucio- nar o problema de Kirkman, 1850. O problema de Kirkman consistiu em organizar quinze alunos em cinco grupos de três para que, numa visita de estudo de sete dias, cada par de alunos passeasse uma única vez. A Tabela 2.1 representa uma possível solução para este problema. Tabela 2.1: Exemplo de uma solução do problema de Kirkman Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado 1 2 3 1 4 5 1 6 7 1 8 9 1 10 11 1 12 13 1 14 15 4 8 12 2 8 10 2 9 11 2 12 15 2 13 14 2 4 6 2 5 7 5 10 14 3 13 15 3 12 14 3 5 6 3 4 7 3 9 10 3 8 11 6 11 13 6 9 14 4 10 15 4 11 14 5 9 12 5 11 15 4 9 13 7 9 15 7 11 12 5 8 13 7 10 13 6 8 15 7 8 14 6 10 12 Uma das principais noções da teoria do design, a noção de equilíbrio entre pares, tem a sua origem na teoria da estatística experimental. A exigência de um certo tipo de padrão leva-nos à noção de um dos tipos mais comuns de designs combinatórios, o Balanced Incomplete Block Design, usualmente designado por BIBD, introduzido em 1936 por Yates, sendo que mais tarde, no final da década de 30, Bose e Fisher contribuíram para o estudo de BIBDs, estudando a sua estrutura e a sua constru- ção. Desde então, ainda não foi construído um algoritmo geral para determinar a existência destes designs, embora já tenham sido introduzidos vários métodos de 3 4 Designs construção de BIBDs para parâmetros específicos. No entanto, existem muitas per- guntas em aberto e que permanecem sem solução desde 1936. Exemplo 2.0.2. Problema de Yates Em 1936, Yates quis criar um conjunto de blocos, com as seguintes condições: 1. k, o número de unidades experimentais por bloco, é fixo; 2. k < v, ou seja, o número de unidades experimentais por bloco é menor que o número de tratamentos; 3. dois tratamentos ocorrem juntos em cada bloco com a mesma frequência, ou seja, se os tratamentos f e g ocorrem juntos em dois blocos, então os trata- mentos h e i também ocorrem juntos em dois blocos. Desta forma, Yates considerou que existiam seis tratamentos e cada bloco era constituído por três desses tratamentos. X = {f, g, h, i, j, l} A = { {f, g, h} , {f, g, i} , {f, h, j} , {f, i, l} , {f, j, l} , {g, h, l} , {g, i, j} , {g, j, l} , {h, i, j} , {h, i, l} } 2.1 Alguns conceitos básicos Definição 2.1.1. Um design (ou design combinatório ou bloco design) é um par (X,A), tal que X é um conjunto finito e A é uma coleção não vazia de subconjuntos de X. Usualmente, aos elementos de X chamamos pontos e aos subconjuntos de A, blocos. Uma das classes mais importantes de designs são os BIBDs (ver Definição 2.1.2). Definição 2.1.2. Um Balanced Incomplete Block Design (BIBD) com parâmetros naturais (v, b, r, k, λ), onde 2 ≤ k < v, é um par (X,A) em que X é um conjunto finito de v elementos chamados pontos, A é a coleção de b subconjuntos estritos de X, com cardinal k, cada um chamado de bloco. Cada ponto ocorre em exatamente r blocos e cada par de pontos distintos ocorre em exatamente λ blocos. Assim, conhecendo estes conceitos, é fácil identificar os parâmetros de um (v, b, r, k, λ)−BIBD, no problema de Kirkman: |X| = v = 15, pois são quinze alunos; 2.1 Alguns conceitos básicos 5 |A| = b = 35, pois são cinco grupos de alunos por cada um dos sete dias, ou seja, trinta e cinco subconjuntos; r = 7, pois cada elemento repete-se sete vezes nos subconjuntos; k = 3, pois cada subconjunto é constituído por três elementos; λ = 1, pois cada par de elementos surge apenas uma única vez. Por sua vez, para o problema de Yates os parâmetros (v, b, r, k, λ) do BIBD são (6, 10, 5, 3, 2)−BIBD, pois existem dez blocos em que cada par de tratamentos ocorre duas vezes e cada tratamento ocorre cinco vezes. Definição 2.1.3. Diz-se que um BIBD é simétrico quando v = b (ou equivalente- mente r = k). Definição 2.1.4. Um BIBD é considerado simples se não tiver blocos repetidos, e completo se for simples e tiver ( v k ) 1 blocos. Teorema 2.1.1. Se um BIBD existe, então os seus parâmetros satisfazem as se- guintes equações: vr = bk (2.1) λ(v − 1) = r(k − 1) (2.2) Observação 2.1.1. Atendendo ao Teorema 2.1.1, podemos concluir que os cinco parâmetros de um BIBD não são independentes, pois b e r podem-se obter de forma única a partir dos parâmetros v, k e λ. Por este motivo, escrevemos muitas vezes (v, k, λ)−BIBD para denotar (v, b, r, k, λ)−BIBD. Exemplo 2.1.1. Considerando o BIBD (7,3,1), determinemos os valores dos parâ- metros b e r: λ (v − 1) = r (k − 1)⇔ 1 (7− 1) = r (3− 1)⇔ 6 = 2r ⇔ r = 3 vr = bk ⇔ 7r = 3b⇔ 7×3 3 = b⇔ b = 7 Teorema 2.1.2 (Inequação de Fisher). Se um (v, k, λ)−BIBD existe com 2 ≤ k < v , (2.3) então v ≤ b (2.4) 1Número de k−combinações de um conjunto, constituído por v elementos. 6 Designs Corolário 2.1.2.1. Se um BIBD existe então λ(v − 1) ≡ 0(mod(k − 1))2 e λv(v − 1) ≡ 0(mod(k(k − 1))), ou seja, quando λ(v−1) k−1 ∈ N e λv(v−1)k(k−1) ∈ N. Observação 2.1.2. Note-se que, (21, 6, 1)−BIBD não existe porque b = 14 < 21 = v. No entanto, satisfaz as condições do Corolário 2.1.2.1. Exemplo 2.1.2. Vamos calcular o valor mínimo de λ, considerando o (9,3,λ)−BIBD. λ(v−1) k−1 ∈ N→ 82λ ∈ N→ 41λ ∈ N→ λ = 1 λv(v−1) k(k−1) ∈ N→ 726 λ ∈ N→ 121 λ ∈ N→ λ = 1 λ (v − 1) = r (k − 1)⇔ 1 (9− 1) = r (3− 1)⇔ 8 = 2r ⇔ r = 4 vr = bk ⇔ 9r = 3b⇔ 9×4 3 = b⇔ b = 12 Assim, o (9, 3, λ)−BIBD, para o menor valor de λ, será o (9,12,4,3,1)−BIBD. 2.2 Matriz de Incidência e Matriz Complementar Definição 2.2.1. Amatriz de incidência de um BIBD (X,A) é designada porMv×b e as suas entradas mij são determinadas por: mij= { 0, xi /∈ Aj 1, xi ∈ Aj , em que 1 ≤ i ≤ v, 1 ≤ j ≤ b, xi ∈ X, e Aj ∈ A. Na matriz de incidência o número 1 ocorre r vezes em cada linha e k vezes em cada coluna. Além disso, em duas linhas distintas ambas têm 1 em λ colunas. Exemplo 2.2.1. Considerando um (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD com X={1, 2, 3, 4, 5} e A={12, 13, 14, 15, 23, 24, 25, 34, 35, 45}.3 A sua matriz de incidência será: Figura 2.1: Matriz de incidência do (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD 2a ≡ b(mod k) significa que a diferença entre a e b é divisível por k (ver Capítulo 3). 3Para simplificar a notação, usualmente, escrevemos os blocos de A (isto é, os subconjuntos de X) são as chavetas e sem vírgulas. 2.2 Matriz de Incidência e Matriz Complementar 7 em que cada linha corresponde aos elementos do conjunto X e cada coluna cor- responde aos blocos (elementos de A). Analisando a matriz de incidência, é possível ver que o número 1 aparece quatro vezes em cada linha (r = 4) e duas vezes em cada coluna (k = 2). Em duas linhas distintas, ambas têm o número 1 somente numa coluna (λ = 1). Através da matriz de incidência é possível construir o seguinte grafo4 (Figura 2.2): Figura 2.2: Grafo criado a partir do (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD Definição 2.2.2. Seja (X,A) um design. Ao design (X, A¯) chamamos design com- plementar, onde A¯ = { A¯j ( X : A¯j = X \ Aj e Aj ∈ A } . Teorema 2.2.1. Quando k ≤ v−2 num (v,b,r,k,λ) – BIBD, o design complementar associado é da forma (v, b, b− r, v − k, b− 2r + λ) – BIBD. Definição 2.2.3. À matriz de incidência de um BIBD complementar chamamos matriz de incidência complementar (ou simplesmente matriz complementar). Exemplo 2.2.2. Considerando um (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD com X = {1, 2, 3, 4, 5} e A = {12, 13, 14, 15, 23, 24, 25, 34, 35, 45}, vem que, A¯ = {345, 245, 235, 234, 145, 135, 134, 125, 124, 123}. Então, o BIBD complementar será: (5, 10, 6, 3, 3). A sua matriz complementar é: Figura 2.3: Matriz complementar do (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD 4A definição de grafo será abordada no Capítulo 4. 8 Designs 2.3 Matriz de Hadamard Em 1893, o matemático francês Jacques Hadamard apresentou uma matriz com caraterísticas especiais, mais tarde conhecida, como matriz de Hadamard. Esta matriz tem várias aplicações, em particular nos BIBDs. Definição 2.3.1. A matriz de Hadamard, H, é uma matriz quadrada de ordem n cujas entradas são ±1, tal que HHT = nIn. Teorema 2.3.1. Quando m > 1 existe uma matriz de Hadamard, de ordem 4m, se e só se, existir um (4m− 1,2m− 1,m− 1)−BIBD (que é simétrico). Corolário 2.3.1.1. Existe uma matriz de Hadamard de ordem 4m (com m > 1) se 4m− 1 for um número primo. Sabendo que v = 4m− 1⇔ 4m = v + 1⇔ m = v + 1 4 é possível calcular k e λ em função a v: k = 2m− 1⇔ k = v + 1 2 − 1⇔ k = v − 1 2 λ = m− 1⇔ λ = v + 1 4 − 1⇔ λ = v − 3 4 Assim, sabendo que v é um número primo, é fácil identificar para que valores de v a construção da matriz de Hadamard é possível. Para os primeiros dezoito números primos, é possível construir uma matriz de Hadamard quando v = 7, 11, 19, 23, 31, 43, 47, ou 59, como podemos observar na tabela seguinte: 2.3 Matriz de Hadamard 9 Tabela 2.2: Valores de k e λ quando v é um número primo v k λ 2 0,5 -0,25 3 1 0 5 2 0,5 7 3 1 11 5 2 13 6 2,5 17 8 3,5 19 9 4 23 11 5 29 14 6,5 31 15 7 37 18 8,5 41 20 9,5 43 21 10 47 23 11 53 26 12,5 59 29 14 61 30 14,5 ... ... ... Observação 2.3.1. Como sabemos a matriz de Hadamard, H, é de ordem n e uma vez que a matriz de incidência de um BIBD simétrico (v = b) é de ordem v, a matriz H é de ordem v + 1 (n = v + 1), isto é, HHT = nIn = (v + 1)Iv+1. Assim, como n = v+1, as primeiras matrizes de Hadamard, associadas a BIBDs simétricos, são as matrizes H8, H12, H20, H24, H32, H44, H48 e H60. Exemplo 2.3.1. Considerando um (7, 7, 3, 3, 1)−BIBD, em que X = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7} e A = {123, 145, 167, 246, 257, 347, 356} a sua matriz de incidência é a seguinte: Figura 2.4: Matriz de incidência do (7, 7, 3, 3, 1)−BIBD 10 Designs Para tornar a matriz de incidência em matriz de Hadamard, é necessário acres- centar uma linha e uma coluna com as entradas todas iguais a 1, e substituir o número 0 por −1.  1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1  Ao multiplicar a matriz de Hadamard pela sua transposta, verifica-se que o resultado dessa multiplicação é a matriz identidade vezes n (neste caso n = 8). H8H T 8 =  1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1   1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1  =  8 0 0 0 0 0 0 0 0 8 0 0 0 0 0 0 0 0 8 0 0 0 0 0 0 0 0 8 0 0 0 0 0 0 0 0 8 0 0 0 0 0 0 0 0 8 0 0 0 0 0 0 0 0 8 0 0 0 0 0 0 0 0 8  = 8  1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1  = 8I8 2.3.1 Matriz de Hadamard para BIBDs não simétricos Como existe matriz de Hadamard para BIBDs simétricos, decidimos investigar se seria possível construir uma matriz de Hadamard para os BIBDs não simétricos. Após alguns recuos e avanços e partindo de alguns pressupostos, conseguimos cons- truir uma matriz para um determinado tipo de BIBDs não simétricos. Em primeiro lugar, considera-se que b = 2v, para garantir que quando se divide a matriz de incidência de um BIBD não simétrico por dois, esta divisão irá originar duas matrizes de dimensão n × n, em que já é possível em cada uma delas imple- mentar as regras da matriz de Hadamard para BIBDs simétricos. 2.3 Matriz de Hadamard 11 Para calcular os restantes parâmetros, considera-se que vr = bk ⇔ vr = 2vk ⇔ k = 1 2 r λ(v − 1) = r(k − 1)⇔ λ(v − 1) = r(1 2 r − 1)⇔ λ(v − 1) = 1 2 r2 − r . Assim, r terá de ser um número par para que k seja um número natural, e λ = 1 2 r2 − r v − 1 ∈ N , ou seja, para λ ser um número inteiro positivo, considerando que r é um número par e a expressão 1 2 r2− r origina um número par, conclui-se que v− 1 é um número par, isto é, v é um número ímpar. Desta forma, a matriz de Hadamard, criada a partir destes BIBDs não simétricos, será uma matriz 1,2Hv+1 tal que 1Hv+1(1H T v+1) +2 Hv+1(2H T v+1) = 2(v + 1)Iv+1 Para chegarmos à expressão da matriz de Hadamard, para BIBDs não simétricos, utilizamos a seguinte construção tendo por base as propriedades quer dos BIBDs quer das matrizes. Supondo que v é ímpar e maior que 3 e ainda que r é par e maior que 2, o BIBD tem a forma (v, b, r, k, λ)→ ( v, 2v, r, r 2 , r2 2 − r v − 1 ) (2.5) A sua matriz de incidência é do tipo: MIv×2v =  i1,1 i1,2 · · · i1,2v i2,1 i2,2 · · · i2,2v ... ... . . . ... iv,1 iv,2 · · · iv,2v  v×2v com iv,1 + iv,2 + ...+ iv,2v = r → cada linha tem r 1’s e 2v − r 0’s i1,2v + i2,2v + ...+ iv,2v = k = r 2 → cada coluna tem r 2 1’s e v − r 2 0’s De seguida, organiza-se a matriz de incidência MIv×2v em duas matrizes:  i1,1 i1,2 · · · i1,v i2,1 i2,2 · · · i2,v ... ... . . . ... iv,1 iv,2 · · · iv,v  v×v e  i1,v+1 i1,v+2 · · · i1,2v i2,v+1 i2,v+2 · · · i2,2v ... ... . . . ... iv,v+1 iv,v+2 · · · iv,2v  v×v 12 Designs Acrescenta-se uma linha e uma coluna com entradas todas iguais a 1 e substitui- se todas as entradas de zeros por −1. 1Hv+1 =  1 1 1 · · · 1 1 i1,1 i1,2 · · · i1,v 1 i2,1 i2,2 · · · i2,v ... ... ... . . . ... 1 iv,1 iv,2 · · · iv,v  (v+1)×(v+1) e 2Hv+1 =  1 1 1 · · · 1 1 i1,v+1 i1,v+2 · · · i1,2v 1 i2,v+1 i2,v+2 · · · i2,2v ... ... ... . . . ... 1 iv,v+1 iv,v+2 · · · iv,2v  (v+1)×(v+1) Desta forma, a soma de cada coluna é igual a zero com exceção da primeira coluna. 1 + i1,v + i2,v + ...+ iv,v = 0, tem v− r2 termos iguais a −1 e r2 + 1 termos iguais a 1. Posteriormente, calcula-se o produto entre cada uma das matrizes anteriores com a sua matriz transposta, e soma-se as duas matrizes resultantes. 1Hv+1(1H T v+1) =  1 1 1 · · · 1 1 i1,1 i1,2 · · · i1,v 1 i2,1 i2,2 · · · i2,v ... ... ... . . . ... 1 iv,1 iv,2 · · · iv,v   1 1 1 · · · 1 1 i1,1 i2,1 · · · iv,1 1 i1,2 i2,2 · · · iv,2 ... ... ... . . . ... 1 i1,v i2,v · · · iv,v  =  v + 1 h1,2 · · · h1,v+1 h2,1 v + 1 · · · h2,v+1 ... ... . . . ... hv+1,1 hv+1,2 · · · v + 1  (v+1)×(v+1) → diagonal → v + 1 h1,2 + h1,3 + ...+ h1,v+1 = 0 ... hv+1,1 + hv+1,2 + ...+ hv+1,v = 0 2.3 Matriz de Hadamard 13 2Hv+1(2H T v+1) =  1 1 1 · · · 1 1 i1,v+1 i1,v+2 · · · i1,2v 1 i2,v+1 i2,v+2 · · · i2,2v ... ... ... . . . ... 1 iv,v+1 iv,v+2 · · · iv,2v   1 1 1 · · · 1 1 i1,v+1 i2,v+1 · · · iv,v+1 1 i1,v+2 i2,v+2 · · · iv,v+2 ... ... ... . . . ... 1 i1,2v i2,2v · · · i2v,2v  =  v + 1 j1,2 · · · j1,v+1 j2,1 v + 1 · · · j2,v+1 ... ... . . . ... jv+1,1 jv+1,2 · · · v + 1  (v+1)×(v+1) → diagonal → v + 1 j1,2 + j1,3 + ...+ j1,v+1 = 0 ... jv+1,1 + jv+1,2 + ...+ jv+1,v = 0 1Hv+1(1H T v+1)+2Hv+1(2H T v+1) =  2(v + 1) 0 · · · 0 0 2(v + 1) · · · 0 ... ... . . . ... 0 0 · · · 2(v + 1)  = 2(v+1)Iv+1 Exemplo 2.3.2. Para (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD: X = {1, 2, 3, 4, 5} e A = {12, 13, 14, 15, 23, 24, 25, 34, 35, 45}. A sua matriz de incidência é a seguinte: Figura 2.5: Matriz de incidência do (5, 10, 4, 2, 1)−BIBD Para construir a matriz de Hadamard, separa-se a matriz de incidência em duas partes iguais, em que metade dos blocos fica na primeira matriz e a outra metade na segunda. Em cada uma das matrizes, acrescenta-se uma linha e uma coluna com as entradas todas iguais a 1, e substitui-se o número 0 por −1. 14 Designs 1H6 =  1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 1 1 −1 −1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 −1 −1 −1 1 −1  e 2H6 =  1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 −1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 1 1 −1 1 −1 1 1 −1 1 −1 1 1  De seguida, multiplica-se cada uma das duas matrizes pela sua matriz transposta e soma-se as duas matrizes resultantes. 1H6(1H T 6 ) =  1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 1 1 −1 −1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 −1 −1 −1 1 −1   1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1 −1 −1 1 1 −1 1 1 −1 −1  =  6 4 0 0 −2 −2 4 6 −2 −2 0 0 0 −2 6 2 0 0 0 −2 2 6 0 0 −2 0 0 0 6 2 −2 0 0 0 2 6  2H6(2H T 6 ) =  1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 −1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 1 1 −1 1 −1 1 1 −1 1 −1 1 1   1 1 1 1 1 1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1 −1 −1 1 1  =  6 −4 0 0 2 2 −4 6 2 2 0 0 0 2 6 −2 0 0 0 2 −2 6 0 0 2 0 0 0 6 −2 2 0 0 0 −2 6  1H6(1H T 6 ) +2 H6(2H T 6 ) =  12 0 0 0 0 0 0 12 0 0 0 0 0 0 12 0 0 0 0 0 0 12 0 0 0 0 0 0 12 0 0 0 0 0 0 12  = 12I6 2.3 Matriz de Hadamard 15 Para (7, 14, 6, 3, 2)−BIBD: X = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7} e A = {123, 125, 136, 145, 147, 167, 234, 246, 257, 267, 347, 356, 357, 456} A sua matriz de incidência é a seguinte: Figura 2.6: Matriz de incidência do (7, 14, 6, 3, 2)−BIBD Assim, seguindo o procedimento anteriormente descrito, a matriz de Hadamard é a seguinte: 1H8 =  1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 1 −1 −1 −1 1 1 −1 −1 −1 1 1 −1 1 1 −1 1 −1 1 −1 −1 −1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 −1 1 −1 −1 −1 −1 1 1 −1  e 2H8 =  1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 1 1 1 1 1 −1 1 −1 1 −1 1 1 −1 1 1 1 −1 1 −1  16 Designs 1H8(1H T 8 ) =  1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 1 1 1 1 1 −1 1 −1 1 −1 1 1 −1 1 1 1 −1 1 −1   1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 1 1 1 −1 −1 −1  =  8 6 0 0 0 −2 −2 −2 6 8 −2 −2 −2 0 0 0 0 −2 8 4 0 2 −2 −2 0 −2 4 8 0 −2 2 −2 0 −2 0 0 8 2 −2 2 −2 0 2 −2 2 8 0 0 −2 0 −2 2 −2 0 8 4 −2 0 −2 −2 2 0 4 8  2H8(2H T 8 ) =  1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 1 1 1 1 1 −1 1 −1 1 −1 1 1 −1 1 1 1 −1 1 −1   1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 1 1 −1 1 −1 −1 1 −1 1 −1 1 1 −1 −1 −1 1 1 1 −1  =  8 −6 0 0 0 2 2 2 −6 8 2 2 2 0 0 0 0 2 8 −4 0 −2 2 2 0 2 −4 8 0 2 −2 2 0 2 0 0 8 −2 2 −2 2 0 −2 2 −2 8 0 0 2 0 2 −2 2 0 8 −4 2 0 2 2 −2 0 −4 8  2.3 Matriz de Hadamard 17 1H8(1H T 8 ) +2 H8(2H T 8 ) =  16 0 0 0 0 0 0 0 0 16 0 0 0 0 0 0 0 0 16 0 0 0 0 0 0 0 0 16 0 0 0 0 0 0 0 0 16 0 0 0 0 0 0 0 0 16 0 0 0 0 0 0 0 0 16 0 0 0 0 0 0 0 0 16  = 16I8 Para (9, 18, 8, 4, 3)−BIBD: X = {1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9} e A = { 1245, 1268, 1279, 1345, 1369, 1378, 1467, 1589, 2356, 2357, 2389, 2468, 2479, 3469, 3478, 4589, 5678, 5679 } A sua matriz de incidência é a seguinte: Figura 2.7: Matriz de incidência do (9, 18, 8, 4, 3)−BIBD Assim, seguindo o procedimento anteriormente descrito, a matriz de Hadamard é a seguinte: 1H10 =  1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 −1 1 1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 −1 1 1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 1 −1 −1 1 −1 1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 1 −1 1 −1 −1 −1 1 −1 1 −1 1 −1 −1 1 −1 1 −1 −1 1 −1  e 18 Designs 2H10 =  1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 1 1 −1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 −1 1 −1 −1 1 1 1 1 1 −1 −1 1 1 −1 −1 −1 −1 −1 1 1 1 1 −1 −1 1 −1 1 −1 −1 1 1 1 1 −1 −1 1 −1 1 −1 1 1 1 −1 1 1 −1 −1 1 1 1 −1 1 −1 1 −1 1 1 −1 1 −1 1  1H10(1H T 10) +2 H10(2H T 10) =  20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 20  = 20I10 Com o aumento de v, torna-se quase impossível colocar todos os cálculos numa página, como podemos observar no Anexo A. Capítulo 3 Números A teoria dos números é um dos ramos da matemática que trabalha essencialmente nas propriedades dos números em geral. Em particular, temos o estudo dos números naturais, cujo conjunto é representado por N, também denominados de números inteiros positivos. Além deste conjunto, também são estudados os números inteiros, cujo conjunto é representado por Z, ou seja, além dos números inteiros positivos, este conjunto também contém os números inteiros menores ou iguais a zero. Considera-se que a é divisível por b quando ambos são diferentes de zero e a b ∈ Z. 3.1 Números pares e ímpares Definição 3.1.1. Considera-se que n é um número par quando n = 2k, sendo k um número inteiro qualquer. Diz-se que n é um número ímpar quando n = 2k + 1, sendo k um número inteiro qualquer. 3.2 Números primos Definição 3.2.1. Um número primo é um número inteiro, maior ou igual a dois, que só é divisível por si mesmo e por 1. Os primeiros dezoito números primos são: 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37, 41, 43, 47, 53, 59, 61, ... 3.3 Combinações de conjuntos Definição 3.3.1. Sejam k, n ∈ N0, tal que n ≥ k. O número de k−combinações, de um conjunto, constituído por n elementos, representa-se por ( n k ) e é calculado da forma seguinte: C(n, k) = ( n k ) = n! k!(n− k)! (3.1) 19 20 Números As combinações verificam as seguintes propriedades:( n k ) = ( n− 1 k ) + ( n− 1 k − 1 ) ( n 0 ) = ( n+ 1 0 ) ( n n ) = ( n+ 1 n+ 1 ) ( n k ) = ( n n− k ) ( n 0 ) = ( n n ) = 1 3.4 Congruência Definição 3.4.1. Seja n é um número natural maior ou igual a dois. Dois números inteiros a e b são congruentes em relação a n quando n mede a diferença entre a e b, ou seja, quando a diferença entre a e b é divisível por n, ou ainda quando a− b n ∈ Z (3.2) Quando tal acontece diz-se que "a é congruente a b módulo n" e escreve-se a ≡ b (mod n) (3.3) 3.5 Relação de recorrência Definição 3.5.1. Dada uma sequência de números reais a0, a1, ..., an, a sua relação de recorrência é uma equação que nos permite relacionar o termo an com os seus precedentes, sabendo que ai < an, para i < n. Observação 3.5.1. A relação de recorrência pode ser linear ou não linear, ho- mogénea ou não homogénea, de ordem k, onde k é a diferença entre o maior e o menor índice dos termos da sequência, ou seja, a sequência expressa-se da forma an, an−1, an−2, ..., an−k. Uma relação de recorrência linear, homogénea de ordem k e com coeficientes constantes representa-se da seguinte forma Cnan + Cn−1an−1 + ...+ Cn−kan−k = 0, n ≥ k (3.4) Substituindo an por λn, chega-se à equação característica associada à equação (3.4) Cnλ n + Cn−1λn−1 + ...+ Cn−kλn−k = 0 (3.5) 3.5 Relação de recorrência 21 Exemplo 3.5.1. Resolução de uma relação de recorrência linear, homogénea de ordem 1. a0 = 1 an = 2an−1 Solução homogénea: an = 2an−1 ⇔ an − 2an−1 = 0 ↓ an = λn Equação característica: ⇔ λn − 2λn−1 = 0 ⇔ λn−1(λ− 2) = 0 ⇔ λn−1 = 01 ∨ λ = 2 (raiz real simples) Assim, a solução geral é da seguinte forma: an = C2 n , onde C ∈ R Como a0 = 1 (condição inicial), então: a0 = 1⇔ C20 = 1⇔ C = 1 Por conseguinte, a solução da relação de recorrência é an = 2 n Exemplo 3.5.2. Resolução de uma relação de recorrência linear, não homogénea, completa de ordem 1. a1 = 2 an = an−1 + n Equação homogénea associada: an − an−1 = 0 ↓ an = λn Equação característica: ⇔ λn − λn−1 = 0 ⇔ λn−1(λ− 1) = 0 1λn−1 = 0⇒ an−1 = 0⇒ an = 0 que é uma solução trivial, costuma-se excluir porque obtém-se da solução geral para C = 0 ∈ R. 22 Números ⇔ λ = 1 (raiz real simples) Assim, a solução geral da equação homogénea associada é anh = ah = C1 n = C, C ∈ R Solução particular: anp = ap = An 2 +Bn ↓ an − an−1 = n ⇔ An2 +Bn− (A(n− 1)2 +B(n− 1)) = n ⇔ An2 +Bn− An2 + 2An− A−Bn+B = n ⇔ 2An− A+B = n ⇔ { 2A = 1 −A+B = 0 ⇔ { A = 1 2 B = 1 2 Assim, ap = 1 2 n2 + 1 2 n Sabemos que a solução geral da relação de recorrência é dada por an = ah + ap, então an = C + 1 2 n2 + 1 2 n Como a1 = 2 (condição inicial), então a1 = 2⇔ C + 12 × 12 + 12 × 1 = 2⇔ C = 1, ou seja, a solução solicitada é an = 1 + 1 2 n2 + 1 2 n, n ≥ 1 3.6 Números eulerianos Os números eulerianos, calculados em 1755 por Leonhard Euler, representam-se por E(n, k) ou En,k ou ainda 〈 n k 〉 e permitem calcular o número de permutações de n elementos, onde n ∈ N, ou seja, do conjunto {1, 2, ..., n}, com precisamente k ascendentes, onde k ∈ N0 (ver Definição 3.6.1). 3.6 Números eulerianos 23 Definição 3.6.1. Considerando que uma permutação de {1, 2, ..., n} é representada por P = (p1, p2, p3, ..., pi, ..., pn), onde 1 ≤ i ≤ n, então para qualquer índice i em que: • 1 ≤ i < n, um ascendente da permutação P ocorre quando pi < pi+1; • 1 ≤ i < n, um descendente da permutação P ocorre quando pi > pi+1; • 1 ≤ i ≤ n, um excedente da permutação P ocorre quando pi > i; • 1 ≤ i ≤ n, um excedente fraco da permutação P ocorre quando pi ≥ i. Observação 3.6.1. Os números eulerianos E(n, k) também permitem calcular o número de permutações com k descendentes, k excedentes ou ainda k+ 1 excedentes fracos. Exemplo 3.6.1. Consideremos a permutação P = (3, 4, 1, 5, 2), em que p1 = 3, p2 = 4, p3 = 1, p4 = 5 e p5 = 2. Para identificar os ascendentes da permutação P , em que 1 ≤ i < 5, tem-se: i = 1 p1 < p2 ⇔ 3 < 4 V i = 2 p2 < p3 ⇔ 4 < 1 F i = 3 p3 < p4 ⇔ 1 < 5 V i = 4 p4 < p5 ⇔ 5 < 2 F  logo, existem ascendentes da permutação Pem i = 1 e i = 3 Para identificar os descendentes de permutação P , em que 1 ≤ i < 5: i = 1 p1 > p2 ⇔ 3 > 4 F i = 2 p2 > p3 ⇔ 4 > 1 V i = 3 p3 > p4 ⇔ 1 > 5 F i = 4 p4 > p5 ⇔ 5 > 2 V  conclui-se que existem descendentesda permutação P em i = 2 e i = 4 Para identificar os excedentes de permutação P , em que 1 ≤ i ≤ 5: i = 1 p1 > 1 ⇔ 3 > 1 V i = 2 p2 > 2 ⇔ 4 > 2 V i = 3 p3 > 3 ⇔ 1 > 3 F i = 4 p4 > 4 ⇔ 5 > 4 V i = 5 p5 > 5 ⇔ 2 > 5 F  então, existem excedentes da permutação P em i = 1, i = 2 e i = 4 Para identificar os excedentes fracos de permutação P , em que 1 ≤ i ≤ 5: i = 1 p1 ≥ 1 ⇔ 3 ≥ 1 V i = 2 p2 ≥ 2 ⇔ 4 ≥ 2 V i = 3 p3 ≥ 3 ⇔ 1 ≥ 3 F i = 4 p4 ≥ 4 ⇔ 5 ≥ 4 V i = 5 p5 ≥ 5 ⇔ 2 ≥ 5 F  ou seja, existem excedentes fracos da permutação P em i = 1, i = 2 e i = 4 24 Números Os números eulerianos permitem construir o triângulo de Euler através da fór- mula de recorrência En,0 = En,n−1 = 1, n ≥ 1 En,k = (k + 1)En−1,k + (n− k)En−1,k−1 ou através da fórmula explícita En,k = E(n, k) = 〈n k 〉 = k∑ j=0 (−1)j ( n+ 1 j ) (k + 1− j)n, n ≥ 1 (3.6) Assim, a relação entre o triângulo de Euler e os números eulerianos é a que se segue: 1 1 1 1 4 1 1 11 11 1 1 26 66 26 1 ... E1,0 E2,0 E2,1 E3,0 E3,1 E3,2 E4,0 E4,1 E4,2 E4,3 E5,0 E5,1 E5,2 E5,3 E5,4 ... No cálculo dos números eulerianos, em vez de utilizar a fórmula explícita (3.6), usamos as seguintes propriedades: E(n, k) = 〈n k 〉 = (k + 1) 〈 n− 1 k 〉 + (n− k) 〈 n− 1 k − 1 〉 E(n, 0) = 〈n 0 〉 = 1, n ≥ 1 E(n, n− 1) = 〈 n n− 1 〉 = 1, n ≥ 1 〈n k 〉 = 〈 n n− 1− k 〉 , n ≥ 1 Exemplo 3.6.2. Usando a fórmula (3.6), calculemos o número de permutações de {1, 2, 3, 4, 5} com três ascendentes, representado por E5,3. 3.6 Números eulerianos 25 E5,3 = E(5, 3) = 〈 5 3 〉 = 3∑ j=0 (−1)j ( 5 + 1 j ) (3 + 1− j)5 = (−1)0 ( 6 0 ) (4− 0)5 + (−1)1 ( 6 1 ) (4− 1)5+ (−1)2 ( 6 2 ) (4− 2)5 + (−1)3 ( 6 3 ) (4− 3)5 = 1× 1× 45 − 6× 35 + 15× 25 − 20× 15 = 1024− 1458 + 480− 20 = 26 Conclui-se que existem 26 permutações do conjunto {1, 2, 3, 4, 5} com três ascen- dentes, que são as seguintes:∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ (1, 2, 3, 5, 4) (1, 2, 4, 3, 5) (1, 2, 4, 5, 3) (1, 2, 5, 3, 4) (1, 3, 2, 4, 5) (1, 3, 4, 5, 2) (1, 3, 5, 2, 4) (1, 4, 2, 3, 5) (1, 4, 5, 2, 3) (1, 5, 2, 3, 4) ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ (2, 1, 3, 4, 5) (2, 3, 1, 4, 5) (2, 3, 4, 1, 5) (2, 3, 4, 5, 1) (2, 3, 5, 1, 4) (2, 4, 1, 3, 5) (2, 4, 5, 1, 3) (2, 5, 1, 3, 4) ∣∣∣∣∣∣∣∣ (3, 1, 2, 4, 5) (3, 4, 1, 2, 5) (3, 4, 5, 1, 2) (3, 5, 1, 2, 4) ∣∣∣∣∣∣ (4, 1, 2, 3, 5) (4, 5, 1, 2, 3) (4, 5, 2, 1, 3) ∣∣(5, 1, 2, 3, 4) Exemplo 3.6.3. Utilizando as propriedades anteriores, calculemos o número de permutações do conjunto {1, 2, 3, 4, 5} com dois excedentes. E(5, 2) = 〈 5 2 〉 = 3 〈 4 2 〉 + 3 〈 4 1 〉 = 3 3〈32 〉 ︸ ︷︷ ︸ 1 +2 〈 3 1 〉+ 3 2〈31 〉 + 3 〈 3 0 〉 ︸ ︷︷ ︸ 1  = 18 + 12 〈 3 1 〉 = 18 + 12 2〈21 〉 ︸ ︷︷ ︸ 1 +2 〈 2 0 〉 ︸ ︷︷ ︸ 1  = 66 26 Números Capítulo 4 Grafos O início da teoria dos grafos tem como importante referência a publicação em 1736, do trabalho do matemático Euler sobre as pontes de Ko¨nigsberg. Em Ko¨nigsberg existia o rio Preguel com sete pontes que faziam a ligação entre duas ilhas e as margens do rio, tal como está exemplificado na Figura 4.1. Figura 4.1: As sete pontes de Ko¨nigsberg Era prática corrente para cada habitante da cidade, tentar encontrar um trajeto que percorresse todas as pontes uma única vez e que regressasse ao ponto de partida. As tentativas foram muitas e todas sem sucesso. Foi então que decidiram colocar o problema a Euler. Euler, através da construção de um grafo, baseado nas sete pontes deKo¨nigsberg, provou que era impossível criar um caminho que atravessasse cada uma das sete pon- tes uma única vez, como se ilustra na figura seguinte. Figura 4.2: Grafo criado por Euler para as sete pontes de Ko¨nigsberg Atualmente, a teoria dos grafos é utilizada em muitas situações, como por exem- plo, para ordenar as hiperligações num motor de busca, para encontrar o caminho mais curto para um determinado destino através do GPS, em redes de transportes. 27 28 Grafos 4.1 Alguns conceitos básicos As notações e terminologias que iremos aplicar são as que a nosso ver são as mais utilizadas. Sendo a teoria dos grafos relativamente recente, as notações e terminologias presentes na literatura não são únicas. Definição 4.1.1. Um grafo G=(V,E) é uma estrutura matemática composta por dois conjuntos finitos e não vazios V(G) e E(G). Os elementos de V são denominados de vértices e os elementos de E são denominados de arestas. Denota-se por |V | o número de vértices do grafo G e por |E| o número de arestas do grafo G. O número n de vértices do conjunto V , isto é, |V | = n é chamado de ordem do grafo G. Observação 4.1.1. A notação deg(vi) representa o grau de cada um dos vértices do grafo, ou seja, o número de arestas incidentes em cada vértice. A soma de todos os graus dos vértices do grafo G é igual ao dobro do número de arestas n∑ i=1 deg(vi) = 2 |E| (4.1) Como utilizaremos números ou letras maiúsculas ou minúsculas para representar um vértice, então para representar uma aresta formada pelos vértices a e b, usaremos a forma ab. Definição 4.1.2. Uma aresta considera-se simples quando está associada a um único par de vértices e considera-se múltipla quando está associada duas ou mais vezes ao mesmo par de vértices. Um grafo que possua só arestas simples é um grafo simples, enquanto que um grafo que possua pelo menos uma aresta múltipla é um multigrafo. Observação 4.1.2. Além destes dois tipos de grafos ainda existem os pseudografos que ocorrem quando um grafo tem um ou mais loops, ou seja, pelo menos uma das arestas tem vértices terminais que coincidem. Figura 4.3: Da esquerda para a direita, grafo simples, multigrafo e pseudografo 4.1 Alguns conceitos básicos 29 Definição 4.1.3. Num grafo G = (V,E), definimos caminho como uma sequência de vértices ligados entre si. Definição 4.1.4. Se um caminho de um grafo não repete vértices nem arestas dizemos que é um caminho simples. No grafo G, um exemplo de um caminho simples seria d-e-g-f. Figura 4.4: Um caminho simples do grafo G Definição 4.1.5. Um caminho aberto define-se como um caminho que começa num vértice e termina em outro. Quando um caminho começa e termina no mesmo vértice diz-se que é um caminho fechado. No grafo G (Figura 4.5), um exemplo de um caminho fechado seria d-e-g-f-d e de um caminho aberto seria d-e-g. Figura 4.5: Um caminho fechado do grafo G Definição 4.1.6. Quando um caminho pode repetir as arestas e os vértices diz-se que é um passeio. No grafo G (Figura 4.6), um exemplo de um passeio seria b-c-d-b-c-a-d. Figura 4.6: Um passeio do grafo G 30 Grafos Definição 4.1.7. Um caminho que repita os vértices mas não as arestas, chama-se percurso. No grafo G (Figura 4.7), um exemplo de um percurso seria e-g-d-f-e-d-c-b-d-a-c. Figura 4.7: Um percurso do grafo G Definição 4.1.8. Um percurso que comece e termine no mesmo vértice, chama-se circuito. No grafo G (Figura 4.8), um exemplo de um circuito seria e-g-d-f-e. Figura 4.8: Um circuito do grafo G Definição 4.1.9. Quando um caminho fechado não repete nem as arestas nem os vértices (exceto os terminais), diz-se que é um ciclo. No grafo G (ver Figura 4.9), um exemplo de um ciclo seria a-c-b-d-a. Figura 4.9: Um ciclo do grafo G 4.2 Grafos especiais 31 Exemplo 4.1.1. Considerando o seguinte grafo G, é possível identificar um caminho simples, um caminho fechado, um percurso, um passeio, um circuito e um ciclo (tendo em conta as Figuras 4.4 a 4.9). Figura 4.10: Grafo G 4.2 Grafos especiais Existem grafos com características específicas que permitem que os associemos em grupos. Apresentaremos apenas alguns grafos que direta ou indiretamente estão relacionados com este trabalho. Grafo completo Definição 4.2.1. Um grafo completo, representado porKn, ocorre quando um grafo de ordem n tem todos os pares de vértices distintos ligados exclusivamente por uma aresta (vértices adjacentes). Estes grafos de ordem n têm n(n−1) 2 arestas e também são considerados como grafos regulares, pois todos os vértices têm grau n − 1. A Figura 4.11 apresenta alguns exemplos. Figura 4.11: Grafos completos Grafo cíclico Definição 4.2.2. Um grafo cíclico, Cn, onde n ≥ 3 representa o número de vértices, é um grafo simples em que o número de vértices é igual ao número de arestas (|V | = |E|) e onde cada vértice tem grau 2 (ver Figura 4.12). 32 Grafos Figura 4.12: Grafos cíclicos Grafo roda Definição 4.2.3. Um grafo roda, Wn, onde n ≥ 4 representa o número de vértices e 2(n− 1) representa o número de arestas, é obtido quando um vértice é adicionado a um grafo cíclico e conectado aos restantes vértices (ver Figura 4.13). Figura 4.13: Grafos roda Grafo nulo Definição 4.2.4. Um grafo nulo, Nn, onde n representa o número de vértices, é um grafo que não tem arestas (ver Figura 4.14). Figura 4.14: Grafos nulos Grafo caminho Definição 4.2.5. Um grafo caminho, Pn, com n ≥ 2, é um grafo simples onde |V | = |E|+ 1 (exemplos na Figura 4.15). Figura 4.15: Grafos caminho 4.2 Grafos especiais 33 Grafo bipartido Definição 4.2.6. Um grafo bipartido ocorre quando os vértices se podem separar em dois subconjuntos V1 e V2, de forma a que V = V1 ∪ V2, ou seja, as arestas têm um vértice em V1 e outro em V2, mas nunca no mesmo subconjunto (Figura 4.16). Figura 4.16: Grafo bipartido Observação 4.2.1. Outra forma de verificar que as arestas não ligam vértices do mesmo subconjunto é colorir os vértices do subconjunto V1 de branco e os vértices do subconjunto V2 de preto. Assim verifica-se que as arestas não ligam vértices da mesma cor (Figura 4.17). Figura 4.17: Grafo bipartido com vértices de cores diferentes Grafo bipartido completo Definição 4.2.7. Um grafo bipartido é considerado completo quando todos os vér- tices do subconjunto V1 estão ligados a todos os vértices do subconjunto V2. Se considerarmos que o número de vértices do subconjunto V1 é n e do subconjunto V2 é m, então o número total de vértices do grafo bipartido completo será de n+m e o número total de arestas será de n×m. Um grafo bipartido completo será denotado por Kn,m. Figura 4.18: Grafo bipartido completo 34 Grafos Grafo Conexo Definição 4.2.8. Um grafo diz-se conexo se existir um caminho que una dois quais- quer vértices. Caso contrário, diz-se desconexo. Figura 4.19: Grafo conexo e grafo desconexo 4.2.1 Grafo Euleriano Definição 4.2.9. Um circuito de Euler ocorre quando um caminho fechado percorre todas as arestas de um grafo, sem as repetir. Quando um grafo tem um circuito de Euler denomina-se por grafo de Euler ou grafo Euleriano. No grafo da Figura 4.20, o circuito de Euler é a-e-b-a-f-b-c-f-g-d-c-a. Teorema 4.2.1. Um grafo conexo é Euleriano se, e só se, todos os seus vértices têm grau par. 4.2.2 Grafo Hamiltoniano Em 1857, o matemático Hamilton apresentou um problema e a respetiva solução. O problema, designado por viagem à volta do mundo, consistia em percorrer todos os vértices de um dodecaedro em que cada vértice correspondia a uma cidade (Londres, Paris, Roma, etc). A finalidade era percorrer todas as cidades uma única vez e regressar à cidade da partida, sendo que só era possível ir de uma cidade a outra se existisse uma aresta entre os respetivos vértices. Este problema originou o ciclo de Hamilton. Definição 4.2.10. Um ciclo de Hamilton ocorre quando um caminho percorre todos os vértices de um grafo, onde só os vértices terminais podem se repetir. Quando um grafo tem um ciclo de Hamilton denomina-se por grafo de Hamilton ou grafo Hamiltoniano. No grafo da Figura 4.20, o ciclo de Hamilton é a-c-d-g-f-b-e-a. 4.2 Grafos especiais 35 Exemplo 4.2.1. O seguinte grafo é de Euler e de Hamilton. Figura 4.20: Um grafo de Euler e de Hamilton Verificar a existência de um ciclo de Hamilton não é fácil. Existem teoremas com condições que permitem identificar a existência de um tal ciclo. Teorema 4.2.2 (Teorema de Dirac1 - 1951). Quando um grafo G simples tem um número de vértices superior ou igual a três (n ≥ 3) e o grau de cada um desses vértices é maior ou igual ao número de vértices a dividir por dois (deg(v) ≥ n 2 ), então G é um grafo Hamiltoniano. Teorema 4.2.3 (Teorema de Ore2 - 1960). Quando um grafo G simples tem um número de vértices superior ou igual a três (n ≥ 3) e a soma dos graus de dois vértices não adjacentes é maior ou igual ao número de vértices (deg(v)+deg(u)≥n), então G é um grafo Hamiltoniano. 4.2.3 Grafo Planar Definição 4.2.11. Quando um grafo pode ser representado sem que as suas arestas se cruzem, denomina-se de grafo planar (ver Figura 4.21). Figura 4.21: Representação do grafo K4 na forma planar Definição 4.2.12. Quando um grafo é planar, o seu desenho divide o plano em faces. A face de um grafo planar representa-se por fi. Ao número de arestas que cada face contém chamamos grau da face e representa-se por deg(fi). Temos que a soma do grau de cada uma das faces é igual ao dobro do número de arestas m∑ i=1 deg(fi) = 2 |E| (4.2) 1Paul Adrien Maurice Dirac, 1902-1984, físico britânico 2∅ystein Ore, 1899-1968, matemático norueguês 36 Grafos Através da fórmula de Euler (4.3), é possível relacionar num grafo planar o número de vértices, de arestas e de faces. Teorema 4.2.4 (Fórmula de Euler). Quando um grafo é conexo e planar o seu número de vértices menos o seu número de arestas mais o seu número de faces é igual a dois, ou seja, |V | − |E|+ |f | = 2 (4.3) Corolário 4.2.4.1. Quando um grafo é simples, conexo, planar e o seu número de vértices é superior a dois (|V | > 2), então o seu número de arestas tem de ser menor ou igual ao triplo do número de vértices menos seis |E| ≤ 3 |V | − 6 (4.4) Exemplo 4.2.2. Utilizando o grafo planar da Figura 4.21 verifica-se que: |V | = 4 |E| = 6 |E| ≤ 3 |V | − 6⇐⇒ 6 ≤ 3× 4− 6⇐⇒ 6 ≤ 12− 6⇐⇒ 6 ≤ 6 Corolário 4.2.4.2. Quando um grafo é bipartido, conexo e planar o seu número de arestas tem de ser menor ou igual ao dobro do número de vértices menos quatro |E| ≤ 2 |V | − 4 (4.5) Exemplo 4.2.3. Se considerarmos um grafo G conexo e planar em que 7∑ i=1 deg(fi) = 22 é possível calcular o número de vértices e de arestas e ainda construir o grafo G (ver Figura 4.22). Assim, neste exemplo, sabe-se que o grafo é constituído por sete faces e por onze arestas. 7∑ i=1 deg(fi) = 22⇔ 7∑ i=1 deg(fi) = 2 |E| ⇔ 22 = 2 |E| ⇔ |E| = 11 Através da fórmula de Euler, descobre-se que o número de vértices é igual a seis, porque |V | − |E|+ |f | = 2⇔ |V | − 11 + 7| = 2⇔ |V | = 6 Com estas caraterísticas, o grafo G pode ser representado da seguinte forma: Figura 4.22: Grafo G conexo e planar 4.3 Matriz de Incidência 37 Grafo Poliédrico Definição 4.2.13. Um grafo planar, simples e conexo é poliédrico se o grau de todos os seus vértices e de todas as suas faces for maior ou igual a três (deg(vi) ≥ 3 e deg(fi) ≥ 3). Observe-se que o grafo G da Figura 4.22 é um grafo poliédrico. 4.3 Matriz de Incidência Definição 4.3.1. A matriz de incidência, IG, de um grafo G é uma matriz em que as linhas representam os vértices, as colunas representam as arestas e os elementos da matriz IG = (aij) são definidos por: aij=  0, quando vi não é vértice terminal em ej 1, quando vi é vértice terminal em ej 2, quando vi é vértice terminal duma aresta ej em loop Proposição 4.3.1. A soma dos elementos de cada linha de IG é igual ao grau do vértice correspondente e a soma dos elementos de cada coluna de IG é igual a 2. Exemplo 4.3.1. Considerando o grafo G da Figura 4.23 Figura 4.23: Grafo G a sua matriz de incidência será a seguinte: Figura 4.24: Matriz de incidência do grafo G 4.4 Matriz de Adjacência Definição 4.4.1. A matriz de adjacência, AG, de um grafo G é uma matriz em que tanto as linhas como as colunas representam os vértices, ou seja, a matriz AG é uma 38 Grafos matriz quadrada de ordem n. Os elementos da matriz AG = (aij) determinam-se da seguinte forma: • se os vértices vi e vj não estão ligados por uma aresta, aij = 0 • se i 6= j, aij é igual ao número de arestas entre vi e vj • se i = j, aij corresponde ao número de loops em vi Exemplo 4.4.1. Considerando o grafo G (ver Figura 4.25). Figura 4.25: Grafo G A sua matriz de adjacência será a seguinte: Figura 4.26: Matriz de adjacência do grafo G 4.5 Matching Perfeito Definição 4.5.1. Um matching é um subconjunto de arestas em que estas não são adjacentes, ou seja, não têm os mesmos vértices terminais. Considera-se que um matching, M , é perfeito quando todos os vértices estão presentes em apenas uma das arestas. O número de arestas de M é igual a metade do número de vértices do grafo |M | = |V | 2 (4.6) Então, só existe matching perfeito quando o número de vértices do grafo é par. 4.6 Árvore Geradora 39 Exemplo 4.5.1. Considerando o grafo G (Figura 4.27), verifica-se que existe mat- ching perfeito, pois M satura todos os vértices. M = {12, 34, 56, 78} Figura 4.27: Grafo G com matching perfeito 4.6 Árvore Geradora Definição 4.6.1. Um grafo simples, conexo e sem ciclos denomina-se por árvore e representa-se por T . Uma árvore de um grafo G denomina-se de árvore geradora se for um subgrafo que contém todos os vértices do grafo G. Teorema 4.6.1 (Teorema de Cayley 3). O número de árvores geradoras de um grafo completo de ordem n é igual a r(Kn) = nn−2. Exemplo 4.6.1. Considerando um grafo completo K6, pelo Teorema de Cayley sabe-se que o número de árvores deste grafo é 1296. r(K6) = 6 6−2 = 64 = 1296 Figura 4.28: Grafo completo K6 Das 1296 árvores geradoras do grafo completoK6, a Figura 4.29 representa alguns exemplos. 3Arthur Cayley, 1821-1895, matemático inglês. 40 Grafos Figura 4.29: Exemplos de árvores geradoras do grafo completo K6 4.6.1 Teorema da árvore-matriz Teorema 4.6.2 (Teorema da árvore-matriz). Seja G = (V,E) um grafo sem loops, com V = {v1, v2, ..., vn}. Sejam AG a matriz adjacência de G, S a matriz diagonal com Sii = deg(vi) e Q = S − AG. Então, para qualquer 1 ≤ i ≤ n, o determinante da matriz que se obtém de Q ao retirar a i−ésima linha e coluna, é igual ao número de árvores geradoras do grafo G. Este número será denotado por T (G). Observação 4.6.1. Quando o grafo G for completo, G = Kn, é usual utilizar a notação r(Kn) ao invés de T (Kn) para designar o número de árvores geradoras de Kn. Exemplo 4.6.2. Considerando o grafo G da Figura 4.30 com quatro vértices, Figura 4.30: Grafo G com quatro vértices a matriz de adjacência é a seguinte: Figura 4.31: Matriz de adjacência do grafo G A matriz S é a seguinte: Figura 4.32: Matriz S do grafo G 4.7 Número Cromático 41 Assim, subtraindo a matriz AG à matriz S, calcula-se a seguinte matriz Q: Q = S − AG =  2 0 −1 −1 0 2 −1 −1 −1 −1 3 −1 −1 −1 −1 3  Se considerarmos i = 4, então a quarta linha e a quarta coluna serão retiradas, e o determinante da matriz resultante é T (G) = ∣∣∣∣∣∣ 2 0 −1 0 2 −1 −1 −1 3 ∣∣∣∣∣∣ = 2 ∣∣∣∣ 2 −1−1 3 ∣∣∣∣ − 1 ∣∣∣∣ 0 2−1 −1 ∣∣∣∣ = 8 Conclui-se que o grafo G tem oito árvores geradoras. 4.7 Número Cromático Em 1912 Birkhoff4 desenvolveu o polinómio cromático (ver Definição 4.7.1) ape- nas para grafos planares, como ferramenta para tentar provar o famoso teorema das quatro cores5. A generalização para quaisquer grafos surgiu em 1932 com os matemáticos Whitney6 e Tutte7 . Definição 4.7.1. O polinómio cromático, PG(k), de um grafo G é uma função que determina o número de colorações de G, ou seja, o número de possibilidades de colorir os vértices de G, com k diferentes cores. Definição 4.7.2. Um grafo é k−colorável quando os vértices são coloridos por k cores, de modo a que vértices adjacentes tenham cores distintas. Definição 4.7.3. O número cromático de um grafo G sem loops, χ(G), é o menor inteiro positivo k de cores utilizado para o grafo G ser k−colorável. Exemplo 4.7.1. Cálculo de χ(G). Figura 4.33: Grafo 4−colorável 4George David Birkhoff, 1884-1944, matemático americano. 5Teorema (das 4 cores): Seja um mapa plano, dividido em regiões, quatro cores são suficientes para colori-lo de forma a que regiões vizinhas não partilhem a mesma cor (demonstrado por Appel e Haken em 1976). 6Hassler Whitney, 1907-1989, matemático americano 7William Thomas Tutte, 1917-2002, matemático britânico 42 Grafos Assim, χ(G) = 4 porque aos vértices a, c, f, k corresponde a cor vermelha, aos vértices b, d corresponde a cor verde, aos vértices e, g, h, j corresponde a cor azul e ao vértice i a cor preta. 4.7.1 Polinómio Cromático Enquanto que para alguns grafos com número reduzido de vértices e de arestas é simples identificar o seu número cromático, para outros mais complexos, o contrário acontece. Nestes casos, uma das possibilidades para obter o polinómio cromático PG(k) é utilizar o Teorema 4.7.1. Definição 4.7.4. Dado um grafo G e uma aresta uv ∈ E(G), a contração de uv que se representa por G/uv corresponde a substituir os vértices u e v por um único vértice que se denota u, v eliminando a aresta uv. A eliminação da aresta uv que se representa por G− uv corresponde a suprimir a aresta uv (ver Figura 4.34). Figura 4.34: Eliminação e contração da aresta 23 do grafo G Teorema 4.7.1. Sejam G um grafo simples e planar e e uma aresta qualquer de G. Então: PG(k) = PG−e(k) − PG/e(k) com G − e (eliminação da aresta e), G/e (contração da aresta e). Exemplo 4.7.2. Calculemos o polinómio cromático associado ao grafo G (Figura 4.35): Figura 4.35: Grafo G 4.7 Número Cromático 43 Figura 4.36: Cálculo do polinómio cromático do grafo G PG(K) = k 4 − 3k3 + 3k2 − k k = 1→ PG(1) = 0 (impossível colorir os vértices de G com apenas 1 cor) k = 2→ PG(2) = 24 − 3× 23 + 3× 22 − 2 = 2→ χ(G) = 2 Desta forma, utilizando o polinómio cromático, conclui-se que existem duas pos- sibilidades de colorir o grafo G, com duas cores (valor que torna PG(k) 6= 0), porque para k = 1 existe zero formas de colorir os vértices de G. Para k = 2 é o menor inteiro positivo que satisfaz PG(k) > 0, sendo por isso o número cromático do grafo G, isto é, χ(G) = 2. O cálculo do polinómio cromático também pode ser apresentado utilizando um diagrama (Figura 4.37). 44 Grafos Figura 4.37: Polinómio cromático do grafo G PG(k) = k 4 − 3k3 + 3k2 − k 4.7.2 Coloração de alguns grafos especiais Grafo k−crítico Definição 4.7.5. Um grafo G é k−crítico se χ(G) = k e χ(G − v) < k para cada vértice v de G. Figura 4.38: Grafo k−crítico O grafo G da Figura 4.38 é 3−crítico pois χ(G) = 3 e χ(G−v1) = 2 = χ(G−v2) = χ(G− v3) < 3 = k 4.8 Digrafos 45 Grafos completos No caso dos grafos completos, o seu número cromático é sempre igual ao seu número de vértices, isto é, χ(Kn) = n (4.7) Grafos cíclicos No caso dos grafos cíclicos, o seu número cromático é igual a dois se o seu número de vértices for par, ou igual a três se o seu número de vértices for ímpar, isto é, χ(Cn) = { 2 se n for par 3 se n for ímpar (4.8) Grafos roda No caso dos grafos roda, o seu número cromático é igual a três se o seu número de vértices for ímpar, ou igual a quatro se o seu número de vértices for par, ou seja, χ(Wn) = { 3 se n for ímpar 4 se n for par (4.9) 4.8 Digrafos Definição 4.8.1. Um digrafo D é um grafo orientado, ou seja, é constituído por vértices e arestas direcionadas, designadas por arcos. Quando um arco é ab significa que está direcionado de a para b, em que a é a cauda (t) do arco e b é a cabeça (h). Para cada vértice de um digrafo definem-se o grau de entrada e o grau de saída. O grau de entrada (degE(v)) é o número de arcos direcionados para o vértice e o grau de saída (degS(v)) é o número de arcos direcionados para fora do vértice em questão, ou seja, o número de arcos que saem do vértice. Considera-se que se trata de um digrafo simples quando não tem arcos múlti- plos nem loops. É loop-digrafo quando tem loops e multidigrafo quando tem arcos múltiplos. A matriz de incidência dos digrafos é construída de forma semelhante à dos gra- fos. Contudo, quando o vértice é extremidade final do arco coloca-se o número 1 na matriz e, quando o vértice é extremidade inicial do arco coloca-se o número −1 na matriz. A matriz de adjacência dos digrafos, por outro lado, é construída exatamente da mesma forma que nos grafos. O mesmo também acontece na coloração dos vértices. Nos digrafos, o número cromático é calculado da mesma forma que nos grafos. Considera-se um digrafo fortemente conexo quando para cada par de vértices u, v existe um caminho orientado de u para v. Para verificar se existe um circuito direto de Euler nos digrafos segue-se a mesma lógica utilizada nos grafos, tendo em 46 Grafos atenção a direção dos arcos. No caso do ciclo de Hamilton utiliza-se a adaptação dos teoremas de Dirac e de Ore aos digrafos (ver Teoremas 4.8.1 e 4.8.2). Teorema 4.8.1 (Teorema de Dirac (para digrafos)). Seja D um digrafo fortemente conexo com n vértices. Se degS(v) ≥ n2 e degE(v) ≥ n2 para todo o v de D, então D é hamiltoniano. Teorema 4.8.2 (Teorema de Ore (para digrafos)). Seja D um digrafo simples com n vértices. Se degS(u) + degE(v) ≥ n para todo o par de vértices não adjacentes u e v de D, então D é hamiltoniano. Exemplo 4.8.1. Considera-se o digrafo D com seis vértices e onze arcos: Figura 4.39: Digrafo D com seis vértices Através da representação do digrafo D (Figura 4.39) é possível construir uma ta- bela (ver Tabela 4.1) indicando o grau de entrada e de saída de cada um dos vértices. Tabela 4.1: Grau de entrada e de saída de cada um dos vértices Vértices a b c d e f Grau de entrada 0 1 2 1+1 (loop) = 2 3 3 Grau de saída 4 2 2 1+1 (loop) = 2 1 0 Considerando a tabela anterior, verifica-se que não existe circuito direto de Eu- ler, pois existem vértices em que o seu grau de entrada é diferente do seu grau de saída. Também não existe ciclo de Hamilton, porque, por exemplo, o vértice a só tem graus de saída e o vértice f só tem graus de entrada. A matriz de incidência deste digrafo é representada da seguinte forma: Figura 4.40: Matriz de incidência do digrafo D com seis vértices 4.9 Polinómio de Tutte 47 4.9 Polinómio de Tutte Em 1948, William Tutte, na sua tese de doutoramento, criou uma generalização a R2 do polinómio cromático de um grafo que, anos mais tarde, serviu de base para muitos estudos por parte de outros matemáticos, tais como, Vaughan Jones e Renfrey Potts. Atualmente, o polinómio de Tutte é, principalmente, utilizado em ciências da computação. Definição 4.9.1. O polinómio de Tutte depende de duas variáveis, x e y, é definido a partir de um grafo G não direcionado e representa-se por TG(x, y) ou T (G;x, y). O polinómio de Tutte, de um grafo composto por mais que uma aresta, é calcu- lado da seguinte forma: TG(x, y) =  xTG−e , se a aresta e for uma ponte8 yTG/e , se a aresta e for um loop 1 , se E(G) = ∅ TG−e + TG/e , caso contrário Observação 4.9.1. Utiliza-se este polinómio para se obter, por exemplo, informação sobre as diferentes ligações de um grafo G. Figura 4.41: Polinómio de Tutte do grafo completo K3 Assim, o polinómio de Tutte para o grafo completo de três vértices (ver Figura 4.41) é Tk3(x, y) = T (k3;x, y) = x 2 + x+ y (4.10) 8 Definição 4.9.2. Seja G conexo. Designa-se por ponte uma aresta que, ao ser eliminada, faz com que G deixe de ser conexo. 48 Grafos 4.9.1 Polinómio de Tutte em grafos bipartidos O polinómio de Tutte para grafos bipartidos completos Kn,2 é definido por: Tn(x, y) = x 2(x+ 1)n−1 + n−1∑ i=1 (x+ y)i(x+ 1)n−1−i , n ≥ 1 (4.11) Ao trabalharmos com a equação (4.11), descobrimos uma nova expressão para Tn(x, y): Tn (x, y) =  ( n 0 ) xn+1 + (( n 1 )− 1)xn + (n 2 ) xn−1 + ...+ ( n n ) x + ( n 2 ) xn−2 1∑ i=1 yi + ( n 3 ) xn−3 2∑ i=1 yi + ( n 4 ) xn−4 3∑ i=1 yi + ...+ ( n n−1 ) x n−2∑ i=1 yi + n−1∑ i=1 yi (4.12) Vamos provar que as duas fórmulas para Tn(x, y) são equivalentes para n ≥ 1, utilizando o método de Indução Matemática em n: x2 (x+ 1)n−1 + n−1∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)n−1−i = =  ( n 0 ) xn+1 + (( n 1 )− 1)xn + (n 2 ) xn−1 + ...+ ( n n ) x + ( n 2 ) xn−2 1∑ i=1 yi + ( n 3 ) xn−3 2∑ i=1 yi + ( n 4 ) xn−4 3∑ i=1 yi + ...+ ( n n−1 ) x n−2∑ i=1 yi + n−1∑ i=1 yi Indução Matemática em n: n = 1, x2 (x+ 1)0 = ( 1 0 ) x2 + (( 1 1 ) − 1 ) x1 ⇔ x2 = x2 Hipótese de Indução x2 (x+ 1)n−1 + n−1∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)n−1−i = ( n 0 ) xn+1 + (( n 1 ) − 1 ) xn + ( n 2 ) xn−1+ ...+ ( n n ) x+ ( n 2 ) xn−2 1∑ i=1 yi + ( n 3 ) xn−3 2∑ i=1 yi + ( n 4 ) xn−4 3∑ i=1 yi+ ...+ ( n n− 1 ) x n−2∑ i=1 yi + n−1∑ i=1 yi 4.9 Polinómio de Tutte 49 Tese de Indução x2 (x+ 1)n + n∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)n−i = ( n+ 1 0 ) xn+2 + (( n+ 1 1 ) − 1 ) xn+1+ ( n+ 1 2 ) xn + ...+ ( n+ 1 n+ 1 ) x+ ( n+ 1 2 ) xn−1 1∑ i=1 yi + ( n+ 1 3 ) xn−2 2∑ i=1 yi+ ...+ ( n+ 1 n ) x n−1∑ i=1 yi + n∑ i=1 yi Demonstração x2 (x+ 1)n + n∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)n−i = x2 (x+ 1)n︸ ︷︷ ︸ (x+1)n−1(x+1) + n−1∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)n−i+ n∑ i=n (x+ y)i (x+ 1)n−i =x2 (x+ 1)n−1 (x+ 1) + n−1∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)n−i︸ ︷︷ ︸ (x+1)n−1−i(x+1) + (x+ y)n︸ ︷︷ ︸ n∑ k=0 (nk)xkyn−k =x2 (x+ 1)n−1 (x+ 1) + (x+ 1) n−1∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)n−1−i + n∑ k=0 ( n k ) xkyn−k = (x+ 1) x2 (x+ 1)n−1 + n−1∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)n−1−i︸ ︷︷ ︸ Hipótese de Indução + n∑ k=0 ( n k ) xkyn−k =(x+ 1)  ( n 0 ) xn+1 + (( n 1 )− 1)xn + (n 2 ) xn−1 + ...+ ( n n ) x+ ( n 2 ) xn−2 1∑ i=1 yi+( n 3 ) xn−3 2∑ i=1 yi + ...+ ( n n−1 ) x n−2∑ i=1 yi + n−1∑ i=1 yi + n∑ k=0 ( n k ) xkyn−k 50 Grafos = ( n 0 ) ︸︷︷︸ (n+10 ) xn+2 + (( n 1 ) − 1 ) xn+1 + ( n 2 ) xn + ...+ ( n n ) x2 + ( n 2 ) xn−1 1∑ i=1 yi+ ( n 3 ) xn−2 2∑ i=1 yi + ...+ ( n n− 1 ) x2 n−2∑ i=1 yi + x n−1∑ i=1 yi + ( n 0 ) xn+1+ (( n 1 ) − 1 ) xn + ( n 2 ) xn−1 + ...+ ( n n ) ︸︷︷︸ (n+1n+1) x+ ( n 2 ) xn−2 1∑ i=1 yi + ( n 3 ) xn−3 2∑ i=1 yi+ ...+ ( n n− 1 ) x n−2∑ i=1 yi + n−1∑ i=1 yi + n∑ k=0 ( n k ) xkyn−k = ( n+ 1 0 ) xn+2 + ( n 1 ) xn+1︸ ︷︷ ︸ ∗ −xn+1︸︷︷︸ ∗ + ( n 2 ) xn︸ ︷︷ ︸ ∗∗ +...+ ( n n ) ︸︷︷︸ (n+1n+1) x2 + ( n 2 ) xn−1 1∑ i=1 yi+ ( n 3 ) xn−2 2∑ i=1 yi + ...+ ( n n− 1 ) x2 n−2∑ i=1 yi + x n−1∑ i=1 yi + ( n 0 ) xn+1︸ ︷︷ ︸ ∗ + ( n 1 ) xn︸ ︷︷ ︸ ∗∗ −xn+ ( n 2 ) xn−1 + ...+ ( n+ 1 n+ 1 ) x+ ( n 2 ) xn−2 1∑ i=1 yi + ( n 3 ) xn−3 2∑ i=1 yi+ ...+ ( n n− 1 ) x n−2∑ i=1 yi + n−1∑ i=1 yi + n∑ k=0 ( n k ) xkyn−k = ( n+ 1 0 ) xn+2 +  ∗︷ ︸︸ ︷( n 1 ) + ( n 0 ) ︸ ︷︷ ︸ (n+11 ) −1 xn+1 +  ∗∗︷ ︸︸ ︷( n 2 ) + ( n 1 ) ︸ ︷︷ ︸ (n+12 ) xn+ . . .+ ( n+ 1 n+ 1 ) x2 + ( n 2 ) xn−1y + ( n 3 ) xn−2 ( y + y2 ) + . . .+ ( n n− 1 ) x2 n−2∑ i=1 yi + x n−1∑ i=1 yi − xn + ( n 2 ) xn−1+ ...+ ( n+ 1 n+ 1 ) x+ ( n 2 ) xn−2 1∑ i=1 yi + ( n 3 ) xn−3 2∑ i=1 yi+ ...+ ( n n− 1 ) x n−2∑ i=1 yi + n−1∑ i=1 yi + ( n 0 ) yn + ( n 1 ) xyn−1 + ( n 2 ) x2yn−2 + ...+ ( n n ) xn 4.9 Polinómio de Tutte 51 = ( n+ 1 0 ) xn+2 + (( n+ 1 1 ) − 1 ) xn+1 + ( n+ 1 2 ) xn + . . .+ ( n+ 1 n+ 1 ) x+( n+ 1 2 ) xn−1 1∑ i=1 yi + ( n+ 1 3 ) xn−2 2∑ i=1 yi + . . .+ ( n+ 1 n ) x n−1∑ i=1 yi + n∑ i=1 yi A partir da demonstração, constata-se a igualdade das expressões seguintes: Tn (x, y) = x 2(x+ 1)n−1 + n−1∑ i=1 (x+ y)i(x+ 1)n−1−i Tn (x, y) =  ( n 0 ) xn+1 + (( n 1 )− 1)xn + (n 2 ) xn−1 + ...+ ( n n ) x + ( n 2 ) xn−2 1∑ i=1 yi + ( n 3 ) xn−3 2∑ i=1 yi + ( n 4 ) xn−4 3∑ i=1 yi + ...+ ( n n−1 ) x n−2∑ i=1 yi + n−1∑ i=1 yi Estas fórmulas levaram-nos à construção de um novo triângulo, que passamos a descrever. Calculamos os polinómios de Tutte Tn(x, y) de grafos bipartidos comple- tos, com 2 ≤ n ≤ 9, e organizamos em três níveis, ou seja, em primeiro lugar os termos em x, em segundo lugar os termos em xy e por fim, os termos em y. Exemplo 4.9.1. Vamos exemplificar as duas fórmulas, nos casos em que n = 3 e n = 4. Para ∗︷ ︸︸ ︷ n = 3: x2 (x+ 1)2 + 2∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)2−i = ( 3 0 ) x4 + (( 3 1 ) − 1 ) x3 + ( 3 2 ) x2+ ( 3 3 ) x+ ( 3 2 ) x 1∑ i=1 yi︸ ︷︷ ︸ y + 2∑ i=1 yi︸ ︷︷ ︸ y+y2 = ( 3 0 ) ︸︷︷︸ 1 x4 + (31 ) ︸︷︷︸ 3 −1 x3 + (32 ) ︸︷︷︸ 3 x2 + ( 3 3 ) ︸︷︷︸ 1 x+ ( 3 2 ) ︸︷︷︸ 3 xy + y + y2 =x4 + 2x3 + 3x2 + x+ 3xy + y + y2 52 Grafos Para n = 4: x2 (x+ 1)3 + 3∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)3−i = ( 4 0 ) x5 + (( 4 1 ) − 1 ) x4 + ( 4 2 ) x3+ ( 4 3 ) x2 + ( 4 4 ) x+ ( 4 2 ) x2 1∑ i=1 yi︸ ︷︷ ︸ y + ( 4 3 ) x 2∑ i=1 yi︸ ︷︷ ︸ y+y2 + 3∑ i=1 yi︸ ︷︷ ︸ y+y2+y3 Por seu lado, temos x2 (x+ 1)3 + 3∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)3−i = x2 (x+ 1)3︸ ︷︷ ︸ (x+1)2(x+1) + 2∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)3−i+ 3∑ i=3 (x+ y)i (x+ 1)3−i =x2 (x+ 1)2 (x+ 1) + 2∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)3−i︸ ︷︷ ︸ (x+1)2−i(x+1) + (x+ y)3︸ ︷︷ ︸ 3∑ k=0 (3k)xky3−k =x2 (x+ 1)2 (x+ 1) + (x+ 1) 2∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)2−i + 3∑ k=0 ( 3 k ) xky3−k = (x+ 1) ( x2 (x+ 1)2 + 2∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)2−i ) + 3∑ k=0 ( 3 k ) xky3−k ∗︷︸︸︷ = (x+ 1) (( 3 0 ) x4 + (( 3 1 ) − 1 ) x3 + ( 3 2 ) x2 + ( 3 3 ) x+ ( 3 2 ) x 1∑ i=1 yi + 2∑ i=1 yi ) + 3∑ k=0 ( 3 k ) xky3−k = ( 3 0 ) ︸︷︷︸ (40) x5 + (( 3 1 ) − 1 ) x4 + ( 3 2 ) x3 + ( 3 3 ) x2 + ( 3 2 ) x2 1∑ i=1 yi + x 2∑ i=1 yi + ( 3 0 ) x4+ (( 3 1 ) − 1 ) x3 + ( 3 2 ) x2 + ( 3 3 ) x+ ( 3 2 ) x 1∑ i=1 yi︸ ︷︷ ︸ y + 2∑ i=1 yi︸ ︷︷ ︸ y+y2 + 3∑ k=0 ( 3 k ) xky3−k︸ ︷︷ ︸ (30)y3+( 3 1)xy2+( 3 2)x2y+( 3 3)x3 4.9 Polinómio de Tutte 53 = ( 4 0 ) x5 + ( 3 1 ) x4︸ ︷︷ ︸ ∗ − x4︸︷︷︸ ∗ + ( 3 2 ) x3︸ ︷︷ ︸ ∗∗ + ( 3 3 ) x2︸ ︷︷ ︸ ∗∗∗ + ( 3 2 ) ︸︷︷︸ 3 x2y + xy + xy2 + ( 3 0 ) x4︸ ︷︷ ︸ ∗ + ( 3 1 ) x3︸ ︷︷ ︸ ∗∗ −x3 + ( 3 2 ) x2︸ ︷︷ ︸ ∗∗∗ + ( 3 3 ) ︸︷︷︸ (44) x+ ( 3 2 ) ︸︷︷︸ 3 xy + y + y2 + ( 3 0 ) y3 + ( 3 1 ) ︸︷︷︸ 3 xy2+ ( 3 2 ) ︸︷︷︸ 3 x2y + ( 3 3 ) ︸︷︷︸ 1 x3 = ( 4 0 ) x5 +  ∗︷ ︸︸ ︷( 3 1 ) + ( 3 0 ) ︸ ︷︷ ︸− 1 (41) x4 +  ∗∗︷ ︸︸ ︷( 3 2 ) + ( 3 1 ) ︸ ︷︷ ︸ (42) x3 +  ∗∗∗︷ ︸︸ ︷( 3 3 ) + ( 3 2 ) ︸ ︷︷ ︸ (43) x2+ ( 4 4 ) x+ 6x2y + 4xy2 + 4xy + y + y2 + y3 = ( 4 0 ) ︸︷︷︸ 1 x5 + (41 ) ︸︷︷︸ 4 −1 x4 + (42 ) ︸︷︷︸ 6 x3 + ( 4 3 ) ︸︷︷︸ 4 x2 + ( 4 4 ) ︸︷︷︸ 1 x+ 6x2y + 4xy2 + 4xy+ y + y2 + y3 =x5 + 3x4 + 6x3 + 4x2 + x+ 6x2y + 4xy2 + 4xy + y + y2 + y3 Os polinómios de Tutte para grafos bipartidos completos, com n ∈ N e 2 ≤ n ≤ 9 são dados por: T2 (x, y) = x 2 (x+ 1)1 + 1∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)1−i = { x3 + x2 + x y T3(x, y) = x 2(x+ 1)2 + 2∑ i=1 (x+ y)i(x+ 1)2−i =  x4 + 2x 3 + 3x2 + x 3xy y2 + y T4(x, y) = x 2(x+ 1)3 + 3∑ i=1 (x+ y)i(x+ 1)3−i =  x5 + 3x 4 + 6x 3 + 4x2 + x 6x2y + 4xy2 + 4xy y3 + y 2 + y 54 Grafos T5 (x, y) = x 2 (x+ 1)4 + 4∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)4−i =  x6 + 4x 5 + 10x 4 + 10x 3 + 5x2 + x 10x3y + 10x2y 2 + 10x2y + 5xy3 + 5xy2 + 5xy y4 + y 3 + y 2 + y T6 (x, y) = x 2 (x+ 1)5 + 5∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)5−i =  x7 + 5x6 + 15x5 + 20x4 + 15x3 +6x2 + x 15x4y + 20x3y 2 + 20x3y +15x2y3 + 15x2y2 + 15x2y +6xy4 + 6xy3 + 6xy2 + 6xy y5 + y4 + y 3 + y 2 + y T7 (x, y) = x 2 (x+ 1)6 + 6∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)6−i =  x8 + 6x7 + 21x6 + 35x5 + 35x4 +21x3 + 7x2 + x 21x5y + 35x4y2 + 35x4y + 35x3y3 +35x3y2 + 35x3y + 21x2y4 +21x2y3 + 21x2y2 + 21x2y + 6xy4 +6xy4 + 6xy3 + 6xy2 + 6xy y6 + y5 + y4 + y3 + y2 + y T8 (x, y) = x 2 (x+ 1)7 + 7∑ i=1 (x+ y)i (x+ 1)7−i =  x9 + 7x 8 + 28x7 + 56x6 + 70x5 +56x4 + 28x3 + 8x2 + x 28x6y + 56x5y2 + 56x5y + 70x4y3 +70x4y2 + 70x4y + 56x3y4 + 56x3y3 +56x3y2 + 56x3y + 28x2y5 + 28x2y4 +28x2y3 + 28x2y2 + 28x2y + 8xy6 +8xy5 + 8xy4 + 8xy3 + 8xy2 + 8xy y7 + y6 + y5 + y4 + y 3 + y 2 + y T9(x, y) = x 2(x+ 1)8 + 8∑ i=1 (x+ y)i(x+ 1)8−i =  x10 + 8x9 + 36x8 + 84x7 + 126x6 +126x5 + 84x4 + 36x3 + 9x2 + x 36x7y + 84x6y2 + 84x6y + 126x5y3 +126x5y2 + 126x5y + 126x4y4 +126x4y3 + 126x4y2 + 126x4y +84x3y5 + 84x3y4 + 84x3y3 + 84x3y2 +84x3y + 36x2y6 + 36x2y5 + 36x2y4 +36x2y3 + 36x2y2 + 36x2y + 9xy7 +9xy6 + 9xy5 + 9xy4 + 9xy3 + 9xy2 +9xy y8 + y7 + y6 + y5 + y4 + y3 + y2 + y 4.9 Polinómio de Tutte 55 Analisando os coeficientes dos termos em x do polinómio de Tutte de grafos bi- partidos completos Kn,2, ou seja, os coeficientes dos polinómios: T2(x, y)→ x3 + x2 + x T3(x, y)→ x4 + 2x3 + 3x2 + x T4(x, y)→ x5 + 3x4 + 6x3 + 4x2 + x T5(x, y)→ x6 + 4x5 + 10x4 + 10x3 + 5x2 + x ... observamos que seguem um determinado padrão dispostos em triângulo. Acrescen- tando duas linhas para n = 0 e n = 1 (iguais às do triângulo de Pascal), encontramos uma nova construção que designamos por triângulo de Tutte (ver Figura 4.42). Figura 4.42: Triângulo de Tutte de grafos bipartidos T0,0 T1,0 T1,1 T2,0 T2,1 T2,2 T3,0 T3,1 T3,2 T3,3 T4,0 T4,1 T4,2 T4,3 T4,4 T5,0 T5,1 T5,2 T5,3 T5,4 T5,5 ... Assim, analisando o triângulo de Tutte, conclui-se que a relação de recorrência que define o triângulo de Tutte é a seguinte: Tn,0 = Tn,n = T2,1 = 1 (cor amarela) n ≥ 0 Tn,1 = Tn−1,1 + 1 (cor laranja) n ≥ 3 Tn,2 = Tn−1,1 + Tn−1,2 + 1 (cor azul) n ≥ 3 Tn,k = Tn−1,k−1 + Tn−1,k (cor verde) n > k, n ≥ 4, k ≥ 3 56 Grafos Exemplo 4.9.2. Para T9,5 T9,5 = T8,4 + T8,5 = T7,3 + T4,7 + T7,4 + T7,5 = T7,3 + 2T7,4 + T7,5 = T6,2 + T6,3 + 2(T6,3 + T6,4) + T6,4 + T6,5 = T6,2 + 3T6,3 + 3T6,4 + T6,5 = T5,1 + T5,2 + 1 + 3(T5,2 + T5,3) + 3(T5,3 + T5,4) + T5,4 + T5,5 = T5,1 + 4T5,2 + 6T5,3 + 4T5,4 + T5,5︸︷︷︸ 1 +1 = T4,1 + 1 + 4(T4,1 + T4,2 + 1) + 6(T4,2 + T4,3) + 4(T4,3 + T4,4︸︷︷︸ 1 ) + 2 = 5T4,1 + 10T4,2 + 10T4,3 + 11 = 5(T3,1 + 1) + 10(T3,1 + T3,2 + 1) + 10(T3,2 + T3,3︸︷︷︸ 1 ) + 11 = 15T3,1 + 20T3,2 + 46 = 15(T2,1︸︷︷︸ 1 +1) + 20(T2,1︸︷︷︸ 1 + T2,2︸︷︷︸ 1 +1) + 46 = 30 + 60 + 36 = 126 A parte do triângulo de Tutte, que colorimos a verde, Tn,k = Tn−1,k−1 + Tn−1,k, n > k, n ≥ 4, k ≥ 3 coincide com o triângulo de Pascal, isto é, Tn,k = Tn−1,k−1 + Tn−1,k = ( n− 1 k − 1 ) + ( n− 1 k ) Verificamos ainda que os termos dos quadrados azuis, para n ≥ 4, são iguais à soma de três parcelas, amarelo + laranja + azul, Tn,2 = Tn−1,0︸ ︷︷ ︸ amarelo +Tn−1,1︸ ︷︷ ︸ laranja +Tn−1,2︸ ︷︷ ︸ azul = 1 + Tn−1,1 + Tn−1,2, n ≥ 4 e percebemos que o triângulo de Tutte completo é semelhante ao triângulo de Pascal. Capítulo 5 Triângulo DNG O triângulo DNG representa a relação entre as três estruturas deste trabalho: os Designs, os Números e os Grafos. Desta forma, o triângulo DNG é a utilização de um determinado tipo de números para estabelecer pontes de ligação entre os designs e os grafos, ou entre os grafos e os designs. Após algumas tentativas, umas não foram completamente bem sucedidas (ver Anexos B, C, D e E). Este trabalho passou a focar-se mais nos números Eulerianos (Secção 3.6), nos grafos completos (Definição 4.2.1), nos grafos bipartidos (Subsecção 4.2) e no polinómio de Tutte (Secção 4.9). 5.1 Grafos completos e BIBDs Para estabelecer a ligação entre um grafo completo Kn = (V,E), com n ≥ 3, e um (v, b, r, k, λ)−BIBD é necessário, em primeiro lugar, considerar que: |X| = |V | = n = v → número de vértices, ou seja, o conjunto X corresponde aos vértices do grafo; |A| = |E| = n(n−1) 2 = b → número de arestas, ou seja, o conjunto A indica as arestas do grafo; deg(vi) = n− 1 = r → grau de cada vértice; k = 2 pois cada aresta liga somente dois vértices. Assim, segundo a inequação de Fisher (equação (2.3)), n > 2, pois 2 ≤ k < v ⇔ 2 < v; λ = 1 pois cada par de vértices está ligado somente por uma aresta. Para qualquer grafo completo Kn = (V,E) (Definição 4.2.1), com n ≥ 3, o seu (v, b, r, k, λ)−BIBD correspondente é da forma Kn → ( n, n(n− 1) 2 , n− 1, 2, 1 ) − BIBD (5.1) Para garantir a existência de um BIBD temos que vr = bk (equação (2.1)) e que 57 58 Triângulo DNG λ(v − 1) = r(k − 1) (equação (2.2)), então r = λ(v − 1) k − 1 = 1(n− 1) 1 = n− 1 (5.2) b = vr k = n(n− 1) 2 (5.3) Analisemos os seguintes grafos completos Kn, com n ≥ 3 (Figuras 5.1 a 5.4), e os seus BIBDs correspondentes. Quando n = 3 (Figura 5.1), existem três vértices (v = 3), três arestas (b = 3), o grau de cada vértice é dois (r = 2), cada uma das arestas liga somente dois vértices (k = 2) e cada par de vértices é ligado somente por uma aresta (λ = 1). (v, b, r, k, λ) = (3, 3, 2, 2, 1) Figura 5.1: Grafo completo K3 Se n = 4 (ver Figura 5.2), existem quatro vértices (v = 4), seis arestas (b = 6), o grau de cada vértice é três (r = 3), cada uma das arestas liga somente dois vértices (k = 2) e cada par de vértices é ligado somente por uma aresta (λ = 1). (v, b, r, k, λ) = (4, 6, 3, 2, 1) Figura 5.2: Grafo completo K4 Para n = 5 (Figura 5.3), existem cinco vértices (v = 5), dez arestas (b = 10), o grau de cada vértice é quatro (r = 4), cada uma das arestas liga somente dois vértices (k = 2) e cada par de vértices é ligado somente por uma aresta (λ = 1). (v, b, r, k, λ) = (5, 10, 4, 2, 1) Figura 5.3: Grafo completo K5 5.1 Grafos completos e BIBDs 59 No caso de n = 6 (ver Figura 5.4), existem seis vértices (v = 6), quinze arestas (b = 15), o grau de cada vértice é cinco (r = 5), cada uma das arestas liga somente dois vértices (k = 2) e cada par de vértices é ligado somente por uma aresta (λ = 1). (v, b, r, k, λ) = (6, 15, 5, 2, 1) Figura 5.4: Grafo completo K6 Resumindo: Tabela 5.1: BIBDs correspondentes aos grafos completos n Kn v b r k λ 3 K3 → 3 3 2 2 1 4 K4 → 4 6 3 2 1 5 K5 → 5 10 4 2 1 6 K6 → 6 15 5 2 1 ... ... ... ... ... ... ... n Kn → n n(n−1)2 n− 1 2 1 Considerando a sequência dos valores de b, b3 = 3 b4 = 6 = b3 + 3 b5 = 10 = b4 + 4 b6 = 15 = b5 + 5 ... obtemos a seguinte relação de recorrência: b3 = 3 bn = bn−1 + n− 1, n > 3 → bn = n(n−1)2 , n ≥ 3 60 Triângulo DNG Iremos provar esta relação de recorrência utilizando o princípio de Indução Ma- temática (versão forte): b3 = 3 bn = bn−1 + n− 1︸ ︷︷ ︸ (1) , n > 3 → bn = n(n− 1) 2︸ ︷︷ ︸ (2) , n ≥ 3 Hipótese de Indução: Verifica-se para b3 e b4 e ... e bn Tese de Indução: Provar que: bn+1 = (n+1)n2 Demonstração bn+1 (1)︷︸︸︷ = bn + n (2)︷︸︸︷ = n(n− 1) 2 + n = n(n− 1) + 2n 2 = n(n+ 1) 2 ∴ bn = n(n− 1) 2 , n ≥ 3 Em todos os exemplos verifica-se a seguinte relação entre os grafos completos Kn e os BIBDs Kn → ( n, n(n− 1) 2 , n− 1, 2, 1 ) 5.1.1 Grafo Conexo, Euleriano, Hamiltoniano e Planar Os grafos Kn são conexos, pois todos os seus vértices estão ligados entre si por um caminho (ver Definição 4.2.8). No entanto, estes grafos só são Eulerianos quando o grau de todos os seus vértices é par (ver Teorema 4.2.1). Como o grau de cada vértice nestes grafos é (n−1), então os grafosKn Eulerianos são aqueles em que o nú- mero de vértices é ímpar, ou seja, quando o elemento v do BIBD é um número ímpar. Para verificar se os grafos Kn são Hamiltonianos (Subsecção 4.2.2) podemos utilizar o Teorema de Dirac (ver Teorema 4.2.2) ou o de Ore (ver Teorema 4.2.3). Através do Teorema de Dirac, para n ≥ 3, verifica-se que: deg(v) ≥ n 2 ⇔ n− 1 ≥ n 2 ⇔ 2n− 2 ≥ n⇔ n ≥ 2 Através do Teorema de Ore, para n ≥ 3, verifica-se que: deg(v) + deg(u) ≥ n⇔ (n− 1) + (n− 1) ≥ n⇔ 2n− 2 ≥ n⇔ n ≥ 2 5.1 Grafos completos e BIBDs 61 Em ambos os teoremas verifica-se que os grafos Kn são Hamiltonianos quando n ≥ 3 e para qualquer i, deg(vi) = n− 1, com vi ∈ V e Kn = (V,E). Como os grafos Kn são simples e conexos, a inequação |E| ≤ 3 |V |−6 (ver (4.4)) pode ser utilizada para verificar se o grafo é ou não planar (Corolário 4.2.4.1). |E| ≤ 3 |V | − 6⇔ n(n− 1) 2 ≤ 3n− 6⇔ n(n− 1) ≤ 6n− 12⇔ n2 − 7n+ 12 ≤ 0 ⇔ n ≤ 4 ∧ n ≥ 3⇔ 3 ≤ n ≤ 4 Como 3 ≤ n ≤ 4 e n ∈ N, então os grafos Kn são planares para n = 3 e n = 4. Desta forma, sabendo que os grafos K3 e K4 são conexos e planares, usando a fórmula de Euler (4.3), é possível calcular o número de faces destes grafos e por (4.2) pode-se calcular a soma do grau de cada uma das faces. Exemplo 5.1.1. Para K3: Figura 5.5: Grafo K3 Analisando o grafo da Figura 5.5, sabe-se que |V | = 3 e |E| = 3, ou seja, |V | − |E|+ |f | = 2⇔ 3− 3 + |f | = 2⇔ |f | = 2, donde, temos duas faces: f1 e f2. Desta forma, sabendo que deg(f1) = deg(f2) (Definição 4.2.12), os graus de cada uma das faces são os seguintes m∑ i=1 deg(fi) = 2 |E| ⇔ 2∑ i=1 deg(fi) = 2× 3⇔ 2∑ i=1 deg(fi) = 6 ⇔ deg(f1) = deg(f2) = 3 Como os graus das duas faces do grafo K3 são maiores ou iguais a três e o grau dos vértices é menor do que três então, pela Definição 4.2.13, considera-se que o grafo K3 não é poliédrico. Para K4: Figura 5.6: Grafo K4 62 Triângulo DNG Analisando o grafo da Figura 5.6, sabe-se que |V | = 4 e |E| = 6, ou seja, |V | − |E|+ |f | = 2⇔ 4− 6 + |f | = 2⇔ −2 + |f | = 2⇔ |f | = 4, logo, o grafo K4 tem 4 faces: f1, f2, f3 e f4. Desta forma, sabendo que deg(f1) = deg(f2) = deg(f3) = deg(f4) (Definição 4.2.12), os graus de cada uma das faces são os seguintes: m∑ i=1 deg(fi) = 2 |E| ⇔ 4∑ i=1 deg(fi) = 2× 6⇔ 4∑ i=1 deg(fi) = 12 ⇔ deg(f1) + deg(f2) + deg(f3) + deg(f4) = 12⇔ 4deg(f1) = 12 ⇔ deg(f1) = deg(f2) = deg(f3) = deg(f4) = 3 Como os graus das quatro faces do grafo K4 são maiores ou iguais a três e o grau de todos os vértices é igual a três então, pela Definição 4.2.13, o grafo K4 é poliédrico. 5.1.2 Matrizes de incidência e de adjacência Na matriz de incidência (Secção 4.3) dos grafos Kn a soma de cada linha é igual a n− 1, pois este é o grau de todos os vértices. Como o elemento k = 2 (cada aresta liga só dois vértices), então a soma de cada coluna da matriz de incidência dos grafos Kn é igual a dois. Figura 5.7: Matriz de incidência dos grafos Kn Na matriz de adjacência (Secção 4.4), como todos os vértices estão ligados entre si e não existem loops, a diagonal da matriz de adjacência dos grafos Kn é igual a zero e os restantes elementos iguais a um. Figura 5.8: Matriz de adjacência dos grafos Kn 5.1 Grafos completos e BIBDs 63 5.1.3 Bloco Complementar Sabendo que o bloco complementar de um (v, b, r, k, λ)−BIBD, com k ≤ v − 2, é da forma (v, b, b− r, v − k, b− 2r + λ)−BIBD (ver Teorema 2.2.1), então o bloco complementar de um (n, n(n−1) 2 , n− 1, 2, 1)−BIBD de um grafo Kn é da forma (n, n(n− 1) 2 , n(n− 1) 2 − (n− 1), n− 2, n(n− 1) 2 − 2(n− 1) + 1)− BIBD (5.4) Assim: ( n, n(n− 1) 2 , n− 1, 2, 1 ) → ( n, n(n− 1) 2 , (n− 2)(n− 1) 2 , n− 2, (n− 4)(n− 1) + 2 2 ) Como o bloco complementar só existe se k ≤ v − 2 e dado que k = 2 vem 2 ≤ n − 2 ⇔ n ≥ 4, ou seja, apenas os grafos Kn com n ≥ 4 poderão ter blocos complementares. Por outro lado, tendo em conta (5.4), só poderá ser n = 4. Conclui-se então que só o grafo completo K4 é que tem associado um BIBD complementar. 5.1.4 Matching Perfeito Nos grafos Kn, com n ≥ 4, existe matching perfeito M (Secção 4.5) quando o número de vértices é par, pois |M | = n 2 . Exemplo 5.1.2. Considerando os grafos K4 e K5, temos que: Figura 5.9: Matching perfeito do grafo K4 Para K4 existe um matching perfeito M (ver Figura 5.9), pois M satura todos os vértices uma vez que M = {12, 34}. No exemplo da Figura 5.10 confirmamos que em K5 não existe matching perfeito (note-se que n = 5 = |V | é ímpar). Figura 5.10: Matching perfeito do grafo K5 64 Triângulo DNG 5.1.5 Árvore Geradora Através do Teorema de Cayley (ver Teorema 4.6.1) sabe-se que o número de árvores geradoras de um grafo Kn, com n ≥ 3 é igual a r(Kn) = nn−2. O Teorema de Cayley pode ser obtido através do Teorema 4.6.2 da árvore-matriz, da forma que se segue. Consideremos o caso particular de n = 4, ou seja, K4 (ver Figura 5.11): Figura 5.11: Grafo completo K4 A matriz de adjacência é a seguinte: Figura 5.12: Matriz de adjacência do grafo completo K4 A matriz S é a seguinte: Figura 5.13: Matriz S do grafo completo K4 Assim, subtraindo a matriz AK4 à matriz S, calcula-se a seguinte matriz Q: Q = S − AK4 =  (n− 1) −1 −1 −1 −1 (n− 1) −1 −1 −1 −1 (n− 1) −1 −1 −1 −1 (n− 1)  Se considerarmos i = 4, então serão retiradas a quarta linha e a quarta coluna, para depois ser calculado o determinante da matriz resultante. 5.1 Grafos completos e BIBDs 65 T (K4) = ∣∣∣∣∣∣ (n− 1) −1 −1 −1 (n− 1) −1 −1 −1 (n− 1) ∣∣∣∣∣∣ = (n− 1) ∣∣∣∣(n− 1) −1−1 (n− 1) ∣∣∣∣ +1 ∣∣∣∣−1 −1−1 (n− 1) ∣∣∣∣− 1 ∣∣∣∣−1 (n− 1)−1 −1 ∣∣∣∣ = n3 − 3n2 = n2(n− 3) Como n = 4, então 2 = n− 2 e 3 = n− 1, logo n2(n − 3) = nn−2(n − (n − 1)) = nn−2(n − n + 1) = nn−2 = r(Kn), tal como indica o Teorema de Cayley. 5.1.6 Digrafos Nesta secção vamos considerar os digrafos completos, logo o correspondente BIBD será (n, n(n−1) 2 , n− 1, 2, 1), onde r é a soma dos graus de entrada e saída. Sabendo que um digrafo é um grafo orientado (ver Definição 4.8) e considerando a orientação das setas do menor número para o maior, então para o (4, 6, 3, 2, 1)−BIBD, o correspondente digrafo é representado como podemos ver na Figura 5.14. Figura 5.14: Digrafo de um (4, 6, 3, 2, 1)−BIBD Ao analisar este digrafo percebe-se que um dos vértices só tem saídas e outro vértice só tem entradas (ver Tabela 5.2). Tabela 5.2: Graus de entrada e de saída de cada um dos vértices Vértices 1 2 3 4 Grau de entrada 0 1 2 3 Grau de saída 3 2 1 0 Assim, é possível concluir que, para o ( n, n(n−1) 2 , n− 1, 2, 1 ) − BIBD, os graus de entrada e de saída dos vértices são da forma indicada na Tabela 5.3: 66 Triângulo DNG Tabela 5.3: Graus de entrada e de saída de cada um dos vértices de um digrafo completo Vértices 1 2 ... n Grau de entrada n− n = 0 n− (n− 1) = 1 ... n− 1 Grau de saída n− 1 n− 2 ... n− n = 0 5.2 Grafos especiais e BIBDs Num grafo caminho, cíclico ou roda existe um BIBD correspondente apenas nos seguintes casos: Para o grafo caminho P2 (ver Definição 4.2.5), o BIBD correspondente será igual ao BIBD do grafo completo K2, ou seja, P2 → (2, 1, 1, 2, 1). Para o grafo cíclico C3 (ver Definição 4.2.2), o BIBD correspondente será igual ao BIBD do grafo completo K3, ou seja, C3 → (3, 3, 3, 2, 1). Para o grafo roda W4 (ver Definição 4.2.3), o BIBD correspondente será igual ao BIBD do grafo completo K4, ou seja, W4 → (4, 6, 3, 2, 1). 5.3 Multigrafos e BIBDs A construção de um multigrafo completo a partir de um BIBD faz-se de forma análoga à exposta no início deste Capítulo, para os grafos completosKn. No entanto, como se trata de um multigrafo completo, os pares de vértices podem estar ligados por duas ou mais arestas (ver Definição 4.1.2), o que significa que o parâmetro λ do BIBD pode ser qualquer número natural maior do que um. Note-se que k = 2 porque cada aresta liga somente dois vértices. Sabemos que se um (v, b, r, k, λ)−BIBD existe, então vr = bk (equação (2.1)) e λ(v − 1) = r(k − 1) (equação (2.2)). Temos: r = λ(v − 1) k − 1 = λ(n− 1) 1 = λ(n− 1), logo b = vr k = nλ(n− 1) 2 Obtém-se (n, nλ(n−1) 2 , λ(n− 1), 2, λ)−BIBD. Se cada par de vértices estiver ligado por duas arestas, ou seja, λ = 2, então (n, n(n− 1), 2(n− 1), 2, 2)− BIBD (5.5) 5.4 Grafos completos e BIBDs simétricos 67 Exemplo 5.3.1. Para v = 4 = n e λ = 2 obtemos o seguinte multigrafo (ver Figura 5.15). Figura 5.15: Multigrafo do (4, 12, 6, 2, 2)−BIBD No caso de v = 4 = n e de λ = 3, o multigrafo que se obtém é:( n, 3n(n− 1) 2 , 3(n− 1), 2, 3 ) − BIBD Figura 5.16: Multigrafo do (4, 18, 9, 2, 3)−BIBD 5.4 Grafos completos e BIBDs simétricos Para um BIBD ser simétrico, é necessário que v = b (ou r = k) (ver Definição 2.1.3). Sabendo que para ser possível a construção de um grafo completo a partir de um BIBD, este terá de ser da forma ( n, nλ(n−1) 2 , λ(n− 1), 2, λ ) , então: v = b ou r = k ⇔ n = nλ(n−1) 2 ⇔ 2n = nλ(n− 1) ⇔ 2 = λ(n− 1) ⇔ λ = 2 n−1 Tem-se λ = 2 n−1 e λ ∈ N, então n = 2 ∨ n = 3. Como v > 2⇒ v = 3 = n. λ = 2 3−1 = 1 68 Triângulo DNG b = 3×1(3−1) 2 = 3 = v r = 1(3− 1) = 2 = k Assim, um BIBD simétrico de um grafo, com n = 3, é da forma (3, 3, 2, 2, 1), ou seja, é o mesmo BIBD associado ao grafo completo K3 (Figura 5.17). Figura 5.17: Grafo do BIBD simétrico (3, 3, 2, 2, 1) 5.5 Números Eulerianos e BIBDs Tal como foi visto anteriormente, na fórmula (3.6), E (n, k) = k∑ j=0 (−1)j ( n+ 1 j ) (k + 1− j)n, n > k, n ∈ N, k ∈ N0 Utilizaremos k = λ; esta escolha prende-se com a ligação entre E(n, λ) e os BIBDs, que iremos abordar. E (n, λ) = λ∑ j=0 (−1)j ( n+ 1 j ) (λ+ 1− j)n Para λ = 1: E (n, 1) = 1∑ j=0 (−1)j ( n+ 1 j ) (1 + 1− j)n = (−1)0 ( n+ 1 0 ) (2− 0)n + (−1)1 ( n+ 1 1 ) (2− 1)n = ( n+ 1 0 ) ︸ ︷︷ ︸ 1 2n − ( n+ 1 1 ) ︸ ︷︷ ︸ n+1 1n = 2n − (n+ 1) Assim E (n, 1) = 2n − (n+ 1)→ ( n, n2 − n 2 , n− 1, 2, 1 ) − BIBD (5.6) Para cada n o BIBD resultante de E(n, 1) (ver Tabela 5.4) é o mesmo BIBD resultante dos grafos completos Kn (ver expressão (5.1)). A Figura 5.2 é do grafo completo particular K4. 5.5 Números Eulerianos e BIBDs 69 Tabela 5.4: BIBD resultante de E(n, 1) E(n, λ) v b r k λ Kn E(3, 1) = 4 3 3 2 2 1 K3 E(4, 1) = 11 4 6 3 2 1 K4 E(5, 1) = 26 5 10 4 2 1 K5 E(6, 1) = 57 6 15 5 2 1 K6 E(7, 1) = 120 7 21 6 2 1 K7 E(8, 1) = 247 8 28 7 2 1 K8 ... ... ... ... ... ... ... E(n, 1) = 2n − (n+ 1) n n2−n 2 n− 1 2 1 Kn, n ≥ 3 Para λ = 2: E (n, 2) = 2∑ j=0 (−1)j ( n+ 1 j ) (2 + 1− j)n = (−1)0 ( n+ 1 0 ) (3− 0)n + (−1)1 ( n+ 1 1 ) (3− 1)n + (−1)2 ( n+ 1 2 ) (3− 2)n = ( n+ 1 0 ) 3n − ( n+ 1 1 ) 2n + ( n+ 1 2 ) 1n = 3n − (n+ 1)2n + (n+ 1)n 2 = 3n − 2n(n+ 1) + n 2 + n 2 Assim E (n, 2) = 3n − (n+ 1)2n + (n+ 1)n 2 → (n, n(n− 1), 2(n− 1), 2, 2)− BIBD (5.7) Para cada n, este BIBD, resultante de E(n, 2) (ver Tabela 5.5), é o mesmo BIBD resultante do grafo completo com arestas duplas, exemplificado na Figura 5.15, para n = 4, através da expressão (5.5). Tabela 5.5: BIBD resultante de E(n, 2) E(n, λ) v b r k λ Kn E(3, 2) = 11 3 6 4 2 2 2K3 E(4, 2) = 11 4 12 6 2 2 2K4 E(5, 2) = 66 5 20 8 2 2 2K5 E(6, 2) = 302 6 30 10 2 2 2K6 E(7, 2) = 1191 7 42 12 2 2 2K7 E(8, 2) = 4293 8 56 14 2 2 2K8 ... ... ... ... ... ... ... E(n, 2) = 3n − 2n(n+ 1) + n2+n 2 n n2 − n 2(n− 1) 2 2 2Kn, n ≥ 3 70 Triângulo DNG Para λ = 3: E (n, 3) = 3∑ j=0 (−1)j ( n+ 1 j ) (3 + 1− j)n = (−1)0 ( n+ 1 0 ) (4− 0)n + (−1)1 ( n+ 1 1 ) (4− 1)n + (−1)2 ( n+ 1 2 ) (4− 2)n+ (−1)3 ( n+ 1 3 ) (4− 3)n = ( n+ 1 0 ) 4n − ( n+ 1 1 ) 3n + ( n+ 1 2 ) 2n − ( n+ 1 3 ) 1n = 4n − 3n(n+ 1) + 2n ( n+ 1 2 ) − ( n+ 1 3 ) = 4n − 3n(n+ 1) + 2nn 2 + n 2 − n 3 − n 6 Assim E (n, 3) = 1 6 n+22n+ 1 2 2nn−3nn+1 2 2nn2−3n−1 6 n3 → ( n, 3n(n− 1) 2 , 3(n− 1), 2, 3 ) (5.8) Tabela 5.6: BIBD resultante de E(n, 3) E(n, λ) v b r k λ Kn E(4, 3) = 1 4 18 9 2 3 3K4 E(5, 3) = 26 5 30 12 2 3 3K5 E(6, 3) = 302 6 45 15 2 3 3K6 E(7, 3) = 2416 7 63 18 2 3 3K7 E(8, 3) = 15619 8 84 21 2 3 3K8 E(9, 3) = 88234 9 108 24 2 3 3K9 ... ... ... ... ... ... ... E(n, 3) = 4n − 3n(n+ 1) + 2n n2+n 2 − n2−n 6 n 3n(n−1) 2 3(n− 1) 2 3 3Kn, n ≥ 3 Resumindo: E (n, 1)→ ( n, n(n− 1) 2 , n− 1, 2, 1 ) − BIBD E (n, 2)→ ( n, 2n(n− 1) 2 , 2(n− 1), 2, 2 ) − BIBD E (n, 3)→ ( n, 3n(n− 1) 2 , 3(n− 1), 2, 3 ) − BIBD E (n, 4)→ ( n, 4n(n− 1) 2 , 4(n− 1), 2, 4 ) − BIBD 5.6 Polinómio de Tutte e BIBDs 71 ... E (n, λ)→ ( n, λn(n− 1) 2 , λ(n− 1), 2, λ ) , n ≥ 3 e λ < n (5.9) r = λ(v − 1) k − 1 = λ(n− 1) 1 = λ(n− 1) b = vr k = nλ(n− 1) 2 Comprovar que λn(n−1) 2 é sempre um número natural, é equivalente a provar que: λn2−λn 2 ∈ N, ∀n≥3∀λ